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terça-feira, 22 de outubro de 2013

Nise - 14 anos de ausência e de presença eterna

                       
 Dody e Nise, duas grades amigas, na Suíça.
Anos de 1960.
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               Nise
                                                         Fauzi Arap

          Meu convívio com a Dra. Nise da Silveira e a Casa das Palmeiras, no início da década de 70, foi dos períodos mais ricos de minha vida. A filosofia de seu trabalho, que respeitava em cada um sua originalidade e chamava respeitosamente de estados de consciência aquilo que a psiquiatria convencional cataloga apenas como doença mental, e com rótulos que nada explicam, me ajudou a melhor compreender a natureza do artista e da própria Arte.
          O verdadeiro artista tem tudo a ver com o convívio com a outra margem da consciência, com o inconsciente profundo. E a criação do Museu de Imagem do Inconsciente e a utilização da Arte como instrumento alquímico de transformação da consciência é, sem dúvida, um marco definitivo na abordagem terapêutica do doente mental. É raro o artista que não se identifica com o esplendor e riqueza do acervo do Museu, que resgata o sentido mais digno e essencial da Arte, por colocá-la fora do Mercado, e como aliada e a serviço do Homem, num momento limite de sua luta por uma sobrevivência psicológica.
          Sou conhecido como homem de teatro e também pela direção de shows de MPB, como os que tenho feito com Maria Bethânia. Rosa dos ventos, que realizamos em 1971 e que chamei de “show encantado”, acabou se tornando um marco em nosso caminho. Talvez esse tenha sido um de meus trabalhos mais inspirados e é importante registrar que o encantamento a que se refere o título, foi possível e aconteceu, devido, em grande parte, à presença invisível de Nise ao meu lado, naquele período. Além disso, utilizamos parte do acervo do Museu, com a projeção de slides de alunos dos trabalhos dos pacientes-artistas, no trecho final do espetáculo. Durante o ano de 1971 e parte de 72, trabalhei como voluntário na Casa das Palmeiras, dando aulas de “teatro”. A própria estrutura do show era apoiada sobre uma linha Junguiana, com, os blocos sendo identificados com os nomes dos quatro elementos - terra, água, ar e fogo.
          Mas o tempo não pára. Nos últimos anos, tenho perdido inúmeros amigos e pessoas importantes de minha vida. Flávio Império, Clarice Lispector, Plínio Marcos, entre muitos outros e, agora, Dra.Nise da Silveira, são alguns dos que partiram. A essa altura, me sinto anestesiado. As pessoas que conseguem como Nise, desbravar novos caminhos dentro da difícil burocracia a que a normalidade nos condena, são merecedoras de nossa gratidão. Ela, como outras que conseguiram extrapolar os limites da conveniência e do bom comportamento, para apontarem e desbravarem novos caminhos, acabam permanecendo para todo sempre, não só em nosso afeto e consideração, mas como presença viva e continuada através da obra cristalizada que permanece perene para possibilitar cura e alívio para tantos que não são senhores de sua própria voz. A eles Nise legou a Arte como caminho. E a Arte talvez seja a única forma de poder verdadeiramente respeitar a individualidade de cada um.

Nota – o negrito é nosso. Fauzi Arap – Ator – Foi coordenador voluntário na Atividade de Teatro na Casa das Palmeiras. Texto: Homenagem Nise da Silveira / Quaternio de 2001 – pág. 97, Revista Nº 8 do Grupo de Estudos C. G. Jung. 
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