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Nise a linguagem dos gestos
Carlos
Augusto de Araújo Jorge
A preocupação de Nise com o outro, com a comunicação, com o respeito à
vida se apresenta desde criança, ocasião em que, observando uma lágrima em um
dos olhos de uma galinha pedrês, fez com que seu pai ordenasse a mudança do
cardápio a ser servido no almoço em sua casa.
Com esta atenção, Nise, durante sua vida Professional, embora, num meio
onde a comunicação verbal era entendida como a única forma de comunicação entre
o profissional e o “doente”
psiquiátrico, ou simplesmente cliente, com o preferia chamar; Nise não admitia
a alcunha de paciente, e em um ato de respeito à pessoa e à ciência, chama a
atenção para outras formas de expressão e de comunicação: a linguagem dos
gestos. Enfim, desta maneira, se comunicavam as pessoas que viviam “estados diferentes do ser”.
Nise da Silveira, por mais de
setenta anos estudou as emoções que ebuliam no interior das pessoas que se
encontravam submersas nas profundezas do inconsciente, pessoas que a ciência
oficial taxava de “anafetivas”, e, ao
garimpar e possibilitar outros canais de comunicação iniciou uma grande
revolução na psiquiatria mundial. Foi
observando o outro, suas ações, seus gestos, que entendeu os dramas que estas
pessoas estavam a viver. Nise entendeu os gestos, decifrou os gestos, e por
fim, enquanto enferma, antes de viver sua grande e última aventura, pois assim
definiu a morte, ensinou a todos nós, seus amigos, a linguagem dos gestos.
Traqueostomizada, porém lúcida, e muito lúcida, durante dias e dias nos fez
entender tudo o que desejou apenas com as mãos e os olhos.
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Nota
– o negrito é nosso.
Carlos
Augusto de Araújo Jorge – médico psiquiatra e do trabalho. Foi presidente da Casa das Palmeiras. Texto Homenagem / Quaternio
de 2001 – pág. 74, Revista Nº 8 do Grupo de Estudos C. G. Jung.
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