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domingo, 21 de junho de 2009

O Fazedor de Chuva

Jader Britto *
Lá pelos idos de 70 do século passado, reunia-se o Grupo de Estudos C. G. Jung sob a coordenação da psiquiatra Nise da Silveira, em apartamento situado à Rua Marques de Abrantes, no bairro de Botafogo. Toda quarta-feira às 8h30 da noite íamos chegando, sempre encontrando a presença dos gatos (Vivaldo, Abadessa etc.) que ocupavam de início todos os tambores em volta da longa mesa retangular.
A cada ano, o grupo elegia determinada obra de Jung de especial interesse pela atualidade do tema para leitura e troca de idéias. Em dada ocasião, optou-se pelo texto “O homem à descoberta de sua alma”. Em meio às discussões, interveio a Dra. Nise para ilustrar a busca de integridade psíquica com uma pequena história vinda do Oriente.
Conta a Dra. Nise:
_ Numa cidade do interior da velha China, ocorreu uma terrível estiagem. Os rios, as barragens, os açudes iam secando; o gado, as cabras, os bodes, a vegetação, tudo ia morrendo. O povo passava fome; com as crianças desnutridas intensificava-se a mortalidade infantil. Diante de tamanha calamidade pública, a Câmara de Vereadores se reuniu procurando uma solução. Um dos vereadores sugeriu que se contratasse um “fazedor de chuva” que atendia em centro mais desenvolvido da região. A Câmara autorizou o vereador a fazê-lo. Ao chegar à cidade o fazedor de chuva, o Prefeito perguntou quanto cobraria para realizar o milagre da chuva. Respondeu ele: a soma acertaremos depois. Por ora, faço duas exigências: que me arranjem um lugar afastado da cidade, uma pequena cabana onde possa repousar e que me tragam diariamente um pão e um copo dágua. Atendidas as exigências, o fazedor de chuva, sozinho na cabana, concentrou-se em profunda meditação.
Passados 15 dias, as chuvas chegaram, os rios botaram água, os açudes sangraram, o verde voltou à paisagem, os animais se reanimaram, a alegria voltou às ruas.
A Câmara de Vereadores prestou todas as homenagens ao Fazedor de Chuva e quis saber dele como havia conseguido o extraordinário milagre.
Respondeu ele: Ao chagar a esta cidade encontrei as pessoas completamente angustiadas, as mentes perplexas, alteradas, divididas, neuróticas. Naquelas circunstâncias pedi o que de melhor vocês podiam oferecer e com maior sacrifício: uma cabana tranquila, o pão e um copo dágua. Distanciado da neurose coletiva, concentrado, meditando, estava imune às tensões vividas pelo povo. Recebia o que precisava. E como estava inteiro, com a MENTE EM PAZ NÃO DIVIDIDA, naturalmente fui atraindo as coisas boas. As Chuvas chegaram até mim e por extensão a toda a cidade e região.
Conclui a Dra. Nise: Enfim, a divisão interna, a neurose, é a principal causa de nossos desajustes, de nossa infelicidade. Ai está a moral da história.
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* Jader Brito – educador. Colaborador na obra de Nise nos anos 70; fundador do Museu de Imagens do Inconsciente e integrante do Grupo de Estudos C. G. Jung.
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quinta-feira, 11 de junho de 2009

Lançamento

Senhora das imagens internas
Escritos dispersos de Nise da Silveira
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Cadernos da Biblioteca Nacional 5
Coordenação Geral de Editoração e Pesquisa – FBN – 376 pgs.

Loja do Livro da Biblioteca Nacional - das 10h às 17h.
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Significativo homenagear a desbravadora, precursora, pensadora, médica e humanista Nise Magalhães da Silveira (1095 – 1999) oferecendo a todos que a admiram uma obra com seus escritos, onde se possa acompanhar seu trabalho intelectual; nos apontando direções, nos convidando a mergulhos profundos na vida interna e realizações externas. Escritos repletos de simbolismo, de criatividade e de riquezas infindáveis.
Os quinze escritos; ensaios, prefácio ou artigo editorial foram organizados em ordem cronológica, transcrições fiéis - recolhidos desde 1935 até 1992. A maioria desconhecida do grande público pela razão de serem publicações em revistas especializadas, jornais e, em sua maioria, nas revistas Quaternio do Grupo de Estudos C. G. Jung, já esgotadas. Trecho da conferência - Filosofia e realidade social - pronunciada por Nise no Club de Cultura Moderna e publicada na revista Movimento, Ano I, nº 1 em maio de 1935. Texto achado por Jader Britto, pesquisador do Proedes/UFRJ.
Artigo escrito em 1986; Que é a Casa das Palmeiras. Publicada em 1990 e 1993; Carta a Spinoza. Em anexo breve trajetória biográfica e anotações das sábias palavras de Nise. Texto da organizadora Martha Pires Ferreira sobre Raphael Domingues e notas sobre a sua amizade de muitos anos com a tenaz, irredutível, alegre e doce Nise.
A organização do livro teve como proposta juntar num corpo uma parte significativa da contribuição que Nise da Silveira legou por escrito à psiquiatria, à psicologia e, sobretudo à humanidade.

O livro pode ser, ainda, encontrado na Livraria Leonardo da Vinci – Av. Rio Branco 185, sub-solo – tel. 2533-2237.

A Casa das Palmeiras não vende livros por ser uma instituição filantrópica.
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