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sábado, 28 de julho de 2012

Nise da Silveira - A Esquizofrenia em Imagens


C. - Lápis cera oleoso/papel
J. - Guache /papel
S. - Lápis cera oleoso /papel
C. - Guache / papel.
"Jung dá máximo valor à função criadora de imagens. Na sua psicoterapia, desenho e pintura são considerados fatores que mesmo podem contribuir para o processo de auto-evolução do ser.
Quando o neurótico já está em condições de sair do estado mais ou menos passivo de dependência das interpretações do analista, Jung o induz a ação – isto é, pede-lhe que desenhe ou pinte as imagens de sonho que mais o impressionaram. Não se trata de fazer arte, trata-se, na expressão de Jung “de produzir uma eficácia viva sobre o próprio individuo”. “Dar forma material à imagem interna, obriga a considerar atentamente cada uma de suas partes que poderão deste modo desenvolver toda a sua força evocadora”. Correntemente, a pessoa detém-se sobre as imagens de seus sonhos apenas durante a sessão analítica. Logo depois é absorvida no tumulto cotidiano. As imagens esvaem-se. Outra coisa será tentar captá-las sobre o papel, lutando contra pincéis e cores e tanto melhor quanto maior for o esforço e tempo dedicado a este trabalho. O individuo necessitara cada vez menos de seu analista. Se descobre, por sua própria experiência, que a formação de uma imagem simbólica libera-o de uma condição de sofrimento e o ajuda a galgar outro nível de consciência, torna-se independente por auto-criação, isto é, dando forma a suas imagens internas ele se modela simultaneamente a si mesmo.
O que acaba de ser dito refere-se a neuróticos e a todos aqueles que buscam o desenvolvimento de sua personalidade, a própria individuação.
Mas, ainda quando se trata de psicóticos, de esquizofrênicos, Jung continua a atribuir ao desenho e a pintura função terapêutica.
Por intermédio da pintura “O caos aparentemente incompreensível e incontrolável da situação total é visualizado e objetivado; poderá ser observado a distância pelo consciente, analisado e interpretado. O efeito deste método é evidentemente devido ao fato de que a impressão primeira caótica ou aterrorizante é substituída pela pintura que, por assim dizer, a recobre. O tremendum é exorcizado pelas imagens pintadas, torna-se inofensivo e familiar e, em qualquer oportunidade que o doente recorde a vivência original e seus ameaçadores efeitos emocionais, a pintura interpõe-se entre ele e a experiência, e assim mantém o terror a distancia”. Muitas e muitas vezes testemunhei essa despotencialização de imagens aterrorizantes, por meio da pintura. Para ser obtido esse efeito, é frequente que a mesma imagem tenha de ser desenhada ou pintada repetidas vezes. Não se trata de estereotipias nesses casos, mas de um difícil trabalho de desgaste da energia de uma imagem perturbadora.
Ainda o desenho e a pintura permitem ao doente dar forma as forças defensivas que se opõem à dissociação. Forcas autocurativas manifestam-se de maneira instintiva quando a psique se desorganiza. O sistema psíquico não diverge nisso de todos os outros sistemas biológicos. Uma vez rompido seu equilíbrio, tende a recuperá-lo. Assim, impulsos defensivos, por necessidade instintiva, buscam aproximar opostos em conflito e lançar pontes sobre cisões que parecem irreparáveis.
As forças ordenadoras que se opõem ao caos configuram-se de preferência em imagens circulares dos mais diversos aspectos, mandalas, seja com a presença de um centro em torno do qual elementos dispares tendem a agrupar-se, seja de arranjos concêntricos compostos de representações múltiplas, contraditórias e mesmo inconciliáveis. “Isso é evidentemente uma tentativa de autocura, que não se origina da reflexão consciente, mas de um impulso instintivo”, diz Jung".
D. - Lápis cera oleoso/ papel
A Esquizofrenia em Imagens - Nise da Silveira - Conferência feita na abertura do Simpósio A Esquizofrenia em Imagens. Comemorativo do XXV aniversário da STOR - CPPII, 13 -16 de setembro de 1971 (hoje, Centro Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira). Publicado na Revista do Grupo de Estudos C. G. Jung, pgs. 123 -136 - QUATERNIO- 1973 – Rio de Janeiro.

2 comentários:

Mirna disse...

Meu pai sofre de esquizofrenia e nós achamos que é muito difícil de se conviver. Espero encontrar um cento de atenção perto de nossa casa em leme para nos ajudar a lidar com a situação. Beijos

Unknown disse...

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