Rua Sorocaba 800, CEP 22271-100, Botafogo, Rio de Janeiro, Brasil.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Modelagem das profundezas do inconsciente

Maria e Jesus
M. E. - modelagem em argila, semana da Páscoa, abril de 2011

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domingo, 24 de abril de 2011

Feliz Páscoa ! Sorria Jesus-ti-ama



J. - desenhos década de 90. Autoretrato
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sábado, 23 de abril de 2011

Imagens que emergem do inconsciente

S. - Desenho ,década de 90.


J. - desenho, década de 90.



Do sofrimento à Saúde, da morte à Vida !~

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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Imagem do inconsciente



"Como é que esqueceram que o Cristo tem a própria descendência dos animais. A gente sente na nossa carne o próprio valor do animal."


Octavio Ignacio


os cavalos de octavio ignacio
fotografia de Humberto Franceschi
Sociedade Amigos do Museu de Imagens do Inconsciente, 1978
Museu de Imagens do Inconsciente
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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Dr. Edgar Tavares e imagens plásticas do inconsciente

Dr. Edgar Tavares, psicóloga, visitante e artista plástica (colaboradora) - Ateliê Livre - 2010.


M.E. - desenho, lápis cera oleoso, 2010



L.R. - desenho, bico de pena, 2010



B. - desenho, lápis grafite, 2010


Dr. Edgar Tavares, 2011


S. - desenho, lápis cera oleoso, 2009


Cl. - pintura, guache, 2011


C. - desenho, lápis cera oleoso, 2011


P.C. - desenho, lápis cera, 2011


A.M. - desenho, lápis cera oleoso, 2011


T. - desenho, lápis de cor e lápis cera oleoso, 2011


R. - desenho, lápis cera, 2011R.V. - desenho, lápis cera oleoso, 2011
G. - pintura, guache, 2011

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Dr. Edgar Tavares, médico psiquiatra da Casa das Palmeiras, poeta e homem de grande sensibilidade, apreendeu no longo convívio com Dra. Nise da Silveira e em constantes estudos das obras de C. G. Jung *, a importância de se indicar aos clientes as atividades ocupacionais desenvolvidas na Casa.


Para Dr. Edgar, em seus longos anos de dedicação, fidelíssima, à sua grande mestra Nise, receitar para os clientes uma atividade criadora, com Emoção de Lidar, pode ser visto como um dos recursos eficazes de tratamento terapêutico para aqueles que sofrem de problemas “alterados estados do ser”. Trabalhar com as mãos é em si terapêutico, dissolve tensões emocionais internas. Dar forma às imagens plásticas que emergem do inconsciente é sem dúvida saudável.

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*Dr. Edgar, guardião do Grupo de Estudos C. G. Jung, acompanha todas as quartas-feiras, de quinze em quinze dias, das 19h às 20h30, na Casa das Palmeiras, o ciclo de estudos aberto ao público. Abril, dia 27/maio, dias 11 e 25/ junho, dia 8 e 22 (Informações Tel. 2266-6465 - das 13h às 17h. ou 2242-9341, com Martha)

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terça-feira, 19 de abril de 2011

Jornal - O Arauto

O Jornal da Casa das Palmeiras nas palavras de um antigo cliente:


“O Arauto é um dos remédios da Casa das Palmeiras”.


Produzido artesanalmente a partir do material dos clientes, o jornal é um apanhado dos acontecimentos do último trimestre. Ele é feito duas vezes por semestre, geralmente, por ocasião das Festas comemorativas da Páscoa, Junina (São João), Primavera e Natal. Sua distribuição é interna. Por vezes algo é produzido especialmente para ser publicado. Geralmente o material é selecionado próximo à data de sua publicação, sendo importante lembrar que o material a ser editado é sempre uma escolha do próprio cliente. Eles participam diretamente na criação imagística de O Arauto. Alguns participam com textos dando a sua opinião ou em organizar as matérias da paginação, e mesmo grampear. Colaborando sempre na editoração com auxílio dos estagiários e colaboradores.
O jornal é sempre resultado dos trabalhos realizados na Casa. Usa-se reproduções; imagens plásticas produzidas nos ateliês de modelagem, desenho ou colagem, realizações de artes aplicadas, oficina literária de poesia ou frases escritas no arranjo floral. No O Arauto é possível encontrar ainda matérias sobre vários assuntos como os jogos esportivos, almoço cultural, festas, passeios, memórias históricas referentes a Casa, as estações do ano ou piadas. Opiniões e pensamentos dos clientes. Textos de outros autores quando referentes ao período em que se está vivendo, sempre dentro do contexto. Podem aparecer textos referentes à Nise da Silveira ou C. G. Jung, fios condutores da Casa.
Quando O Arauto está pronto os clientes o levam para suas casas. Além de despertar interesse pela produção do mesmo, o jornal também é forma de contato, ainda que indireta, com aqueles que não estão presentes no cotidiano da casa. Os trabalhos reproduzidos no jornal trazem satisfação para os familiares que compartilham com a produção criadora e, por vezes, se surpreendem com as pequenas mudanças conquistadas a cada mês.
Frases de O Arauto: “O Brasil está mostrando para o mundo que tem condição de sediar uma olimpíada”, T.J - “A Casa das Palmeiras é um Oásis”, M.- “O povo tem que ter consciência de que estão escolhendo seus representantes nas câmaras municipais e prefeituras. Por isto o voto é muito importante porque disto depende o futuro da nossa cidade”, T - “A primavera é uma estação que sempre traz uma expectativa de renovação mesmo de vida e de valores e ao mesmo tempo uma esperança de dias melhores”, N – “No outono já não é tão quente nem tão frio, é intermediário, tempo que mais gosto por ser período do meu aniversário”, N - ”Aqui eu tenho amigos,” R. “Adoro a Casa das Palmeiras aqui eu faço amizades, eu gosto de colecionar amigos”, P.C. “As flores são belas, as flores são maravilhosas, as flores são exuberantes, as flores são floridas”, R.
O jornal O Arauto é uma das momórias da história da Casa das Palmeiras.

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sábado, 16 de abril de 2011

Afeto catalisador






R. - Desenho com lápis cera 25 x 45 cm, março de 2011.


O que caracteriza o afeto catalisador como processo terapêutico? Como se dá? O terapeuta ocupacional, catalisador, se faz com a presença silenciosa, emoção de lidar, afetuosa, de alguém para manter-se ao lado de uma pessoa, cliente, que necessite de ajudar para retornar à vida normal, cotidiana com tranquilidade. Dar ao ser dilacerado internamente o reconhecimento de ser aceito e querido como pessoa. Alguém que possa ajudar cuidadosamente a quem não pode se expressar, que necessite emergir das profundezas, labirinto, onde se perdeu no mar do inconsciente; que necessite de meios eficazes, alguns recursos, para fazer a viagem de volta à realidade. As atividades expressivas são as mais recomendadas.


Atividades como modelagem, desenho, pintura, bordado, tricô, crochê são caminhos certos para reencontro com o bem estar emocional e psíquico, assim como a colagem, música, teatro, poesia, expressão corporal, mímica, jardinagem e outros recursos que tenham as mãos, o corpo, para engendrarem as emoções que emergem do inconsciente.

A encadernação, o corte e costura ou a culinária podem ser caminhos. O terapeuta catalisador é alguém que afetivamente, saiba ajudar quem não consegue sair do labirinto onde foi mergulhado, e permanece imerso na vida inconsciente sem saber como retornar à vida real, consciente.


O experiente ou mesmo o jovem terapeuta será sempre aquele que “sem medo do inconsciente veste o escafandro”, tão recomendado por Nise da Silveira, e mergulha cuidadosamente, a fim de ajudar o ser fragilizado que precisa de presença firme para se reorganizar e retornar à vida cotidiana. A atitude do monitor é não verbal, é não intervir, não dar opiniões sobre o trabalho que está sendo feito. Apenas manter-se em silêncio numa atitude de acolhimento afetivo. Nos ateliês acompanhar, silenciosamente, o momento da criação, o momento do processo criativo, as expressões, as manifestações que vão surgindo aos poucos do mundo interno para o externo é fundamental para se obter as mais ricas respostas terapêuticas.


As atividades que emergem das profundezas do inconsciente pedem silêncio para dar espaço ativando a imaginação, para se obter certa organização interna e permitir que o ato criador possa se expressa em imagens; atividades plásticas, música, poesia, teatro, expressão corporal, etc.


Sem uma boa dose de silêncio não há possibilidade de expressões genuínas emergirem do mundo interno para o externo. Do silêncio interno surgem as imagens do inconsciente, e sempre carregadas de emoções fortes e intensas, muitas vezes expressas no crispar da fisionomia, no olhar, na postura corporal, nas palavras ou gestos. Basta um sorriso acolhedor e ajuda quando necessário. Basta estar presente e em silêncio. Basta acolher o outro com afeto sem exuberâncias, de preferência com sobriedade.


Dra. Nise sempre mostrava a importância do não verbal, do silêncio atento, da presença afetiva, ao lado do cliente, e, ajuda apenas quando necessário; “Observar sempre e anotar, depois, o essencial”. As imagens que emergem do inconsciente são a história viva verdadeira de uma pessoa. Fundamento para o conhecimento profundo da natureza de seres enigmáticos que não devem ser rotulados, e sim vistos como “pessoas que vivem estados alterados do ser”, como frisava a mestra Nise da Silveira

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Referência: Imagens do Inconsciente – Nise da Silveira, pág. 50/66 a 91 – Ed. Alhambra, Rio de Janeiro, 1981 (esgotado / procurar em estante virtual)

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domingo, 3 de abril de 2011

Fundamentos do método terapêutico de Nise da Silveira III

Quaternio nº 8 / Homenagem a Nise da Silveira Revista do Grupo de Estudos C. G. Jung – Obra Científica, p. 26 a 28 , Rio de Janeiro, 2001.
A Casa das Palmeiras
Uma experiência revolucionária na Psiquiatria
Franklin Chang
3 – Atividades da Casa das Palmeiras As atividades oferecidas aos clientes pela Casa são de dois tipos: individual e grupal. O total é de 19 atividades, sendo sete de caráter individual e doze de caráter grupal.
As atividades expressivas individuais se caracterizam por estimular o indivíduo. Os ateliês onde estas atividades são realizadas são os seguintes:
. Pintura
. Modelagem
. Xilogravura *
. Colagem
. Papier Maché *
. Tapeçaria / Artes Aplicadas
. Salão de Beleza
Nas atividades grupais a participação deve ser livre e espontânea. Aliás, como todo processo terapêutico da Casa das Palmeiras. São os seguintes:
. Expressão Corporal
. Música
. Contos de fada
. Teatro
. Baile
. Poesia
. Grupo Cultural
. Jornal O Arauto
. Lanche
. Passeios
. Festas
. Clube Caralâmpia (Encontro de todos os clientes e a equipe técnica, para discussão de temas de interesse comum, como festas, passeios etc., mas também criar um espaço para Críticas e sugestões individuais que possam ser debatidas e votadas por todos).
Toda produção dos clientes da Casa é assinada, datada e arquivada para estudos e pesquisa. Estamos no momento criando um espaço na Casa que irá permitir aos clientes e à equipe, ler estudar e pesquisar em livros de publicações que compõem a nossa biblioteca.
Infelizmente, as limitações de espaço não permitem que possamos ampliar nossas atividades atuais. Gostaríamos de uma casa maior, onde pudéssemos aumentar a capacidade de atendimento e criar novos ateliês para ampliar as opções das atividades terapêuticas. Também temos o desejo de um quintal ou área livre, onde pudéssemos oferecer atividades externas como esportes, jardinagem*, horta*, etc.
Porem, o mais importante é podermos manter a filosofia da Casa das Palmeiras, que como a Dra. Nise definiu, “é um pequeno território livre”. 10 Sua preocupação era a de nos mantermos distantes de qualquer tipo de “coleira”, não significando isto um estado de isolamento, mas sim, a liberdade de participação e cooperação em projetos científicos, sem vínculo comercial.
Podemos afirmar que nestes 44 anos a Casa das Palmeiras cumpre seu papel que é o de evitar as internações psiquiátricas.
4 – Opiniões dos clientes sobre a Casa das Palmeiras (...2001)
“A Casa das Palmeiras e a Sociedade se juntam. É como se a Casa das Palmeiras fosse uma casa de vida, ensina a criar e a se expandir melhor. Aqui na Casa das Palmeiras, eu quero frisar, nós trabalhamos, com prazer. E isso é importante.”

“A Casa das Palmeiras é uma obra de fé. É muito fácil acreditar no homem quando ele está em pleno gozo de sua saúde, quando ele encontrou felicidade, quando é realizado, enfim, quando é um homem “cuca legal”, é mito fácil acreditar. Agora, difícil mesmo é acreditar quando ele está numa situação meio difícil, que a gente não une uma coisa com outra, então a pessoa acredita em nós assim mesmo. E na nossa situação isto é muito importante”.

“A Casa das Palmeiras é a parte do resgate do Karma coletivo de grupo. O atual modo de vida das pessoas onde os bens materiais são mais importantes que o amor e a vida, levam as pessoas a serem desequilibradas, criando problemas coletivos e individuais. A Casa das Palmeiras é uma instituição que, em seus mais de 40 anos, criou uma nova ética gente aos problemas psiquiátricos.”

“Deus tocou no coração da fundadora para que ela fizesse esta caridade. Se não fosse ela, eu não sei o que seria de mim. Aqui a gente esquece os nossos problemas; é uma das melhores que tem, porque eu tenho cisma, vozes; elas me confortam; não tem outra igual a essa”.

“Aqui nos dá coragem, nós somos felizes. Eu tenho agonia, eu venho para cá e fico logo bem. Que Deus abençoe esta casa. Aqui as pessoas se unem, é uma família.”

“O que eu sinto com relação à Casa das Palmeiras é uma gigantesca, uma enorme gratidão. Quando eu ingressei na Casa das Palmeiras eu estava mentalmente muito doente. Eu não sabia como agir para ter uma vida mais ou menos normal e a minha família não sabia o que fazer para me ajudar."

"Ao ingressar eu aqui, logo senti aceitação mesmo no estado mental em que me encontrava e senti apoio da Casa este binômio: Casa das palmeiras e consultas regulares com um psiquiatra lá fora, é o que está dando certo.”
10. SILVEIRA, Nise da, Emoção de Lidar, p.11 Rio de Janeiro - Alhambra, 1986.
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Rio, 4 de abril de 2011
Os Ateliês de Desenho, Pintura, Modelagem, Artes Aplicadas, Grupo Cultural, Contos de Fada, Música, Teatro, Baile, etc. permanecem funcionando, cotidianamente, de 2ª feira à 6ª feira.
O Ateliê de *Xilogravura, por dificuldades financeiras, infelizmente, continua desativado. Ali passaram grandes gravadores como José Paixão, Rizza Conde e Neil, colaboradores na Obra de Nise nos tempos áureos em que se tinha tempo e disponibilidade em doar-se com generosidade. Em razão de espaço o *Papier Maché está desativado.
A *Jardinagem se mantem desde 2007. Anossa *Horta, muito apreciada, com algumas hortaliças, ocupa um pequeno espaço na lateral da Casa.
A Biblioteca sempre visitada com nossas preciosas obras. O Corte e Costura, a criação de Cadernos Artesanais e o Coral são atividades que se mantem.
Há mais de um ano o Círculo Filosófico é espaço para expressões reflexivas sobre a vida.
E neste momento a Fotografia, uma antiga atividade que tinha Regina Alvarez com monitora, está sendo retomada.
Nise da Silveira elevou a Terapêutica Ocupacional,
Emoção de Lidar, ao seu mais alto ponto de dignidade criadora!
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Palavras sábias de Nise:
"O eixo da Casa das Palmeiras é cultural,
nem psiquiatria, nem psicologia."
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sábado, 2 de abril de 2011

Fundamentos do método terapêutico de Nise da Silveira II

A Casa das Palmeiras
Uma experiência revolucionária na Psiquiatria

Franklin Chang *
(Continuação – Quaternio nº 8 /Homenagem a Nise da Silveira. Revista do Grupo de Estudos C. G. Jung - Obra Científica -p. 25 – Rio de Janeiro, 2001)

Método de tratamento - Psicologia de C. G. Jung
2.3) O terceiro substrato da fundamentação da Casa das Palmeiras se encontra na psicologia de C. G. Jung. Este, como a Dra. Nise, era psiquiatra, e ambos se preocupavam com uma questão essencial no tratamento dos esquizofrênicos: o que se passa dentro do doente?
Ambos tinham observado que os psiquiatras em geral não tinham interesse no que o paciente tinha a dizer, mas sim em fazer diagnósticos ou descrever sintomas e em compilar dados estatísticos. Quer dizer, a personalidade não interessava em nada, ou muito pouco. C. G. Jung nos conta em suas Memórias, no capítulo sobra Atividades Psiquiátricas, que Freud se tornou importante para ele devido a suas pesquisas sobre a psicologia da histeria e os sonhos. Reconhece que “Freud introduziu a Psicologia na Psiquiatria, embora fosse um neurologista”.6
Após quase 10 anos de trabalho ininterrupto como médico interno do Hospital Burghölzli de Zurique, tratando principalmente de esquizofrênicos, Jung chegou à seguinte conclusão:
“Através de meu trabalho com os pacientes, eu percebi que idéias paranóides e alucinações contêm um germe de significado. Uma personalidade, uma história de vida, um padrão de esperança e desejos existe por trás da psicose. A falta é nossa se nós não os entendemos. No fundo nós não descobrimos nada de novo de desconhecido no mentalmente doente; ou melhor, nós encontramos o substrato de suas próprias naturezas”.7
Jung, assim como a Dra. Nise, reconheceu que em muitos casos a exploração do material consciente é insuficiente, e que não se poderia entender o simbolismo dos conteúdos da psicose – delírios, alucinações, pinturas etc. – senão estudando mitologia.
Para ele, os símbolos através dos quais o inconsciente se expressa, seja nos delírios psicóticos ou em nossos próprios sonhos, são encontrados nos contos de fada, religiões e outros sistemas coletivos de imaginação e pensamento.
Lembra-nos que nós não somos apenas indivíduos isolados no mundo, que a “psique não é só um problema pessoal, mas um problema coletivo, mundial, e que o psiquiatra tem de lidar com o mundo em sua totalidade”.8
O interessante é que Dra. Nise chegou ao mesmo ponto em suas pesquisas, isto é, de que seria necessário estudar o conteúdo das psicoses para se compreender o que se passa por dentro do psicótico. Numa conversa pessoal, Jung recomendou a ela que estudasse mitologia para decifrar a linguagem do inconsciente.
Sob a orientação da Dra. Marie-Louise Von Franz, seguidora próxima de Jung, Dra. Nise realizou seus estudos em Zurique. Continuou suas pesquisas e observações clínicas no Hospital e na Casa das Palmeiras, que acabaram resultando em vários livros artigos de interesse para os psiquiatras, psicólogos e todos aqueles que se dedicam às Ciências Humanas em geral.
Depois de muitos anos de estudos ela concluiu:
“Escutando o doente, estudando suas pinturas e outras produções, o observador verificará que a matéria-prima de seus delírios é constituída de idéias e imaginações arquetípicas, soltas ou agrupadas em fragmentos de temas míticos. Se o observador sofre da deformação profissional característica do médico, inclinar-se-á a ver nas criações da imaginação, coisas inconscientes ou patológicas e rotulará apressadamente essas idéias, imaginações e ações como material produzido pela doença. Ma, se tomar posição fora do dogma pré-estabelecidos, irá difratar processos psíquicos surpreendentes. Irá vislumbrar a estrutura mesma da psique, nos seus fundamentos e no seu dinamismo”. 9
Um ponto ainda a ser observado é que na psicoterapia junguiana não se visa apenas a resolução de problemas pessoais, mas também estimular e favorecer o desenvolvimento de “semente criativas” inerentes ao indivíduo e que o ajudem a crescer.
Na Casa das Palmeiras, verificamos que as atividades expressivas estimulam o surgimento e o crescimento destas “sementes criativas”. Muitas vezes, a criatividade é o catalisador que permite a aproximação de diversos opostos como olho e mão, sentimento e pensamento, corpo e psique, e com isto os tumultos internos, impulsos arcaicos e emoção violentos encontram um meio de expressão, simples, mas de alto valor terapêutico.
6. Jung, C.G. – Memories, Dreams, Reflections. p. 135. Londres, Fontana. 1983. 7. Idem, p. 148 – 149. 8. Idem, p.154. 9. SILVEIRA. Nise da, Emoção de Lidar, p. 15. Rio de Janeiro. Alhambra. 1986.
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* Flanklin Chang – Presidente da Casa das Palmeiras de 18/03/1997 a 8/11/2001. Amigo muito querido de Nise da Silveira.
Continuaremos este artigo de Chang – Atividades da Casa das Palmeiras e Opiniões dos clientes sobre a Casa das Palmeiras.
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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Fundamentos do método terapêutico de Nise da Silveira I


A Casa das Palmeiras

Uma experiência revolucionária na Psiquiatria

Franklin Chang*
Quaternio nº 8 / Homenagem a Nise da Silveira - Revista do Grupo de Estudos C. G. Jung, Obra Cintífica, p. 23 – Rio de janeiro, 2001.

1 – Histórico
Dra. Nise da Silveira havia verificado que o índice de reinternação nos hospitais do Centro Psiquiátrico Pedro II era muito alto – entre 60 e 70% dos doentes retornavam após um novo surto psicótico.
Ela percebeu que tantas reinternações eram um sinal de que algo estava errado no tratamento psiquiátrico. Para ela, um destes possíveis erros (entre outros) estaria na saída do hospital, sem nenhum preparo adequado do indivíduo, quando apenas cessavam os sintomas mais impressionantes do surto psicótico. Não era tomado em consideração que “a vivência da experiência psicótica abala as próprias bases da vida psíquica”. - 1
A partir desta constatação, ela pensou em um setor do hospital, ou uma instituição que funcionasse como ponte entre o hospital e a vida na sociedade.
Mas aconteceu que, em 1956, um grupo de pessoas amigas conseguiu junto à ilustre educadora Alzira Cortes, a cessão de um pavimento de um prédio onde funcionava o Colégio La-Fayette, na Rua Haddock Lobo – Tijuca, Rio de Janeiro.
O nome da instituição, Casa das Palmeiras, foi sugerido e aprovado por todos, pela artista plástica Belah Paes Leme, que teve a inspiração devido a um grupo de balas palmeiras que ficavam no jardim do casarão.
Com a presença de numerosos amigos, a Casa das Palmeiras foi inaugurada no dia 23 de dezembro de 1956. A primeira diretoria assim constituída:
Presidente: Alzira Lopes Cortes Diretora técnica: Nise da Silveira Diretora técnica adjunta: Maria Stela Braga Diretora administrativa: Lygia Loureiro da Cruz.
A Casa das Palmeiras funcionou neste local até 1968, sendo depois transferida para uma casa situada na Rua Dona Delfina nº 36, Tijuca, cedida pela CADEME, MEC, graças à iniciativa da Sra. Adriana Coutinho, na ocasião diretora administrativa.
Anos mais tarde, a Sra. Maria Antonieta Franklin Leal permutou a casa da Rua Dona Delfina, que se achava em más condições de conservação, por outra casa, na Rua Sorocaba 800, Botafogo, onde, desde setembro de 1981, está instalada a Casa das Palmeiras. A Casa das Palmeiras é uma instituição sem fins lucrativos, na qual o principal método de tratamento é a terapêutica ocupacional aplicada à Psiquiatria e reconhecida de Utilidade Pública pela lei 376, de 16/10/1963.
Inúmeros artistas tem colaborado com a Casa em forma de doações de shows ou obras de arte, como num leilão de Arte de 1967. Destacamos show com Caetano Veloso e o leilão com as obras dos artistas plásticos; Abraham Palatinik, Anna Letycia, Augusto Rodrigues, Anna Bella Geiger, Ivan Serpa, Isa Aderne, Almir Mavignier, Edith Behring, Abelardo Zaluar, Carlos Vergara, Maria do Carmo Secco, Caio Mourão, Millor Fernandes, Maria Teresa Vieira, Marília Rodrigues, Marlene Hori, Fayga Ostrower, Roberto Moriconi, Amilcar de Castro, Artur Barrio, Tiziana Bonazzola Barata, Antonio Maia, Rubem Gerchman, Bruno Giorgi, Madelene Colaço, Frank Schaeffer, Inimá de Paula, José Tarcisío, Pedro Touron, Milton da Costa, Lygia Clark, Farnese de Andrade, Paulo Moreira da Fonseca, Cândido Portinari, Carlos Scliar, Poty, Oscar Niemeyer, Ilo Krugli, Vera Roitman, José Paixão, Edouard Sued, Di Cavalcanti, Ziraldo, Georgette Melhen, Djanira, Darel Valença, Darcílio de Paula Lima e outros amigos colaboradores.
A capacidade atual é de 45 clientes e funciona em regime de externato, nos dias úteis, das 13h às 17h30.

2 - Método de tratamento
Os fundamentos do método de tratamento da Casa das Palmeiras são os seguinte: Terapêutica ocupacional. Afeto catalisador. Psicologia de C. G. Jung
2.1) Dra. Nise conta em seu livro Imagens do Inconsciente que, desde 1946, se dedicou à Terapêutica Ocupacional, em busca em um novo método de tratamento para a esquizofrenia.
Não queria que a T.O. fosse vista apenas como um método auxiliar ou subalterno aos tratamentos “científicos” como o eletrochoque, coma insulínico, psicocirurgia ou o uso indiscriminado de psicotrópicos.
Negando que a T.O. fosse apenas um sistema para distração dos doentes ou então de torná-los produtivos na economia hospitalar, Dra. Nise percebeu que a T. O. poderia ser um autêntico método terapêutico, em que os agentes terapêuticos seriam a pintura, modelagem, música, trabalhos artesanais etc.
A grande dificuldade é que por ser um método não verbal, ele não se encaixa no sistema cultural vigente que privilegia a palavra. Como ela escreveu:
“Lidando com atividades manuais e expressivas, processando-se sobretudo em nível não verbal, compreende-se que este tipo de tratamento não goze de prestígio na nossa cultura tão deslumbrada pelas elucubrações do pensamento racional e tão fascinada pelo verbo”. - 2
Mas mesmo assim, Dra. Nise tentou uma fundamentação teórica para a T. O. nos escritos de vários médicos e psiquiatras que se dedicavam ao assunto, Kraepelin, Bleuler, H. Simon, K. Schneider, P. Sivadon, Freud e Jung.
Apesar de pouco sucesso nestes estudos, ela não desistiu a acabou por adotar o termo “emoção de lidar”, para substituir o então conhecido Terapia Ocupacional. Aquele termo foi criado por um cliente da Casa das Palmeiras, quando, ao manipular o material (lã) na criação de um objeto (gato), escreveu:
“Gato, simplesmente Angorá
do mato,
Azul olhos nariz cinza
Gato marrom
Orelha castanho macho
Agora rapidez
Emoção de Lidar”.

O termo emoção de lidar sugere a emoção provocada pela manipulação de um material de trabalho, uma das condições essenciais para a eficácia do tratamento. As atividades expressivas, ao permitirem a livre e espontânea expressão dos afetos e emoções, conseguem uma maior penetração no mundo interno dos psicóticos, e daí ser possível a elaboração de vivências e experiências muitas vezes não verbalizáveis, fora do alcance da razão e do pensamento.
A equipe da Casa das Palmeiras está sempre atenta para observar o que transparece na face, mãos e gestos do cliente e isto vai ao longo do tempo permitido que o cliente seja mais bem conhecido, e tenha uma melhor abordagem terapêutica.
2.2) Em Psicologia se costuma dizer que tão o mais importante que o método de tratamento, é a qualidade do terapeuta que conta. Isto também é válido para o tratamento psiquiátrico, onde há necessidade do doente de encontrar um ponto de apoio e referência afetiva.

Dra. Nise costuma dizer:
“Entre o pessoal que tem contato com o doente: médicos, enfermeiros, monitores de terapêutica ocupacional, há também os catalisadores e os inibidores. Sem dúvida o mesmo indivíduo poderá funcionar como catalisador para uma pessoa e inibidor para outra”. - 3
A equipe técnica da Casa das Palmeiras é orientada e treinada para desenvolver o “afeto catalisador”, ou seja, para catalisar o afeto emergente da relação interpessoal para o trabalho nas atividades expressivas.

O afeto catalisador surge natural e espontaneamente quando o doente percebe o interesse e simpatia do monitor, estagiário ou médico, para o que está sendo produzido ou não, deve estar em primeiro lugar, para a pessoa em si mesma, e depois para a sua produção.
O que observamos é que, após a construção de um relacionamento confiante com alguém da equipe, aos poucos o doente começa a estender seus contatos com o ambiente e com outras pessoas, e daí ocorre naturalmente uma maior socialização. Nestes anos todo de existência, foi constatado um baixíssimo índice de reinternações de clientes da Casa das Palmeiras, em instituições ou clínicas psiquiátricas.

A Dra. Nise sintetiza isto da seguinte forma:
“O esquizofrênico dificilmente consegue comunicar-se com o outro, falham os meios habituais de transmitir suas experiências. E é um fato que o outro também recua diante desse ser enigmático. Será preciso que esse outro esteja seriamente movido pelo interesse de penetrar no mundo hermético do esquizofrênico. Será preciso constância, paciência e um ambiente livre de qualquer coação, para que relações de amizade e de compreensão sejam criadas. Sem a ponte desse relacionamento a cura será quase impossível”. - 4

Dra. Nise também experimentou animais como co-terapêutas e verificou que eles são excelentes catalisadores de afeto. Ela nos conta em seu livro O Mundo das Imagens como tudo começou, quando foi encontrada no terreno do hospital uma cadelinha abandonada, faminta. Com ela nas mãos, aproximou-se um interno muito interessado. Dra. Nise então perguntou se ele aceitava tomar conta dela e após sua afirmativa, tornou-se responsável pela cachorra.
Devido aos excelentes resultados obtidos, Dra. Nise inicia um trabalho pioneiro de pesquisa, e mais uma vez é mal interpretada, talvez porque, como ela diz, “o animal é em nossa cultura um ser irracional” - 5, e nós, os seres humanos, enquanto racionais julgamo-nos superiores a eles.
Na realidade, este problema tem a ver com o desenvolvimento da cultura ocidental, e sua valorização da razão humana e do pensamento científico, em detrimento dos sentimentos, da intuição e de uma visão holística do homem e da natureza.
- 1 SILVEIRA. Nise da, Emoção de Lidar. p.9, Rio de Janeiro, Alhambra, 1986. - 2 SILVEIRA. Nise da, Imagens do Inconsciente, p. 66. Rio de Janeiro, Alhambra. 1981. - 3. Idem, p. 69 - 4. Idem, p. 80 - 5. SILVEIA. Nise da, O Mundo das Imagens, p. 112, São Paulo, Ática. 1992.
Continuaremos este artigo de Franklin Chang – 2.3, com o método de tratamento - Psicologia de C. G. Jung / As Atividades da Casa das Palmeiras / Opiniões dos clientes sobre a Casa das Palmeiras.
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* Flanklin Chang – Presidente da Casa das Palmeiras de 18/03/1997 a 8/11/2001. Amigo muito querido de Nise da Silveira.
Artigo na íntegra; apenas acréscimo de nomes de artistas plásticos que se destacaram na área da cultura e que participaram do Leilão de Arte (177 artistas, incluindo uma cerâmica de Pablo Picasso doada por Dr. Magalhães da Silveira). Obras doadas para o leilão em benefício da Casa das Palmeiras em 25, 26 e 27 de setembro de 1967 - Rio de Janeiro- Affonso Nunes - leiloeiro.
Negrito é nosso ________