O Grupo Cultural se reúne semanalmente na Casa das Palmeiras. É uma atividade que estimula a organização das idéias junto com o sentimento. Teve por muitos anos a orientação do artista plástico, gravador, José Paixão, criador deste espaço democrático em que cada um pode e deve expressar seus pensamentos. Outros colaboradores, monitores e estagiários/as o substituíram ao longo de muitos anos.
Em torno da grande mesa, logo após o lanche, clientes, estagiários/as e colaboradores, lado a lado nos colocamos com material à disposição: papel, lápis, borracha e apontador, para participarmos do Grupo Cultural. As idéias surgem espontâneas. O monitor coordena qual o assunto que foi amplamente sugerido; política, questões sociais, religiosas, artísticas, etc. As questões são colocadas em sua realidade como é a vida, e com calorosidade. As emoções são expressas no papel sem qualquer preocupação com a grafia, e sem exclusões. ”Cada um é cada um”, palavras de um participante. Não há restrições para as colocações dos pensamentos; podem ser várias folhas, uma frase ou mesmo uma só palavra. Um tempo é estabelecido para se escrever.
“O pensamento sai do plano do chão. Cria asas. Alça vôo, expressando o anseio do Homem à espiritualização”, como dizia Lisete, antiga colaboradora da Casa.
Os textos são escritos com certa carga apaixonada de afetividade. Compenetrados todos vão expressando em palavras o que mais significativo lhes ocorre naquele momento. Um belo silêncio se faz presente. Podemos observar as faces mais ou menos tensas, mais ou menos leves, alegres e descontraídas enquanto as idéias vão sendo elaboradas no papel. “O que me mete medo é sair sozinho e encontrar comigo mesmo numa esquina deserta.” D. Outra participante: “As flores são belas quando a gente se transforma no verdadeiro campo florido.” E. As frases são cuidadosamente guardadas numa pasta para acompanhamento de tão rica atividade coletiva.
Podem ocorrer dias em que não se escreve só se conversa em trocas calorosas. Aparecem temas instigantes como, por exemplo, a insensatez da vida contemporânea que se mostra cruel na TV ou nos Jornais. “Eu estou muito preocupado. O mundo está muito complicado, a polícia briga com os traficantes, e eles brigam com os políticos, que brigam com os juízes e os juízes com outros juízes que brigam com os banqueiros que brigam com os advogados que brigam com a polícia. É tudo muito complicado.” N.(participante do grupo). Palavras ditas com muita emoção e lucidez intelectual, mobilizando profundas reflexões no Grupo: “Aqui nós estamos em harmonia, protegidos.” L.A. “A paz, a tranquilidade, a harmonia do bem absoluto.” S. “Aqui somos amigos uns dos outros, solidariedade.”T. “Aqui é um refúgio criativo.” E.
Pensamento e sentimentos se ordenam neste espaço democrático que possibilita a reflexão com liberdade e emoção.
No início do nosso encontro, nesta semana, foi muito bem lembrado pelo dedicadíssimo médico psiquiatra Dr. Edgar: “O eixo da Casa das Palmeiras, como dizia Dra. Nise, é cultural, não é psiquiatria, nem medicina. O eixo da Casa é cultural.”
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