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segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Afeto catalisador e produção criativa

David chega à Casa das Palmeiras perto do lanche. Agitado, roda pela casa e depois senta na varanda para fumar. Muito inquieto. Observo com delicadeza:
- Veio mais tarde, só agora?
- Que horas?  Pergunta.
-Três e pouco.
Suspira, remexendo os cabelos, e, permanece calado me olhando. Estou sentada em frente. Pergunto:
- Vamos desenhar um pouco?
-Sim, vamos.


Apaga o cigarro, levanta-se rápido e sobe as escadas dirigindo-se para o Ateliê de desenhos e pintura.  Eu o acompanho. Coloco uma folha de papel branco e uma caixa de pastel oleoso sobre a mesa que ele escolhe sentar-se.  Atento inicia seu trabalho; um grande coração cor de rosa vivo. Segue desenhando com cuidado, tracinhos coloridos no centro da imagem. Com certa tensão desenha uma grande mão amarelo forte, do alto para baixo, do lado direito do papel, coloca uma gota cinza e assina, mais abaixo, a sua palavra habitual - DEUS - tendo acima desta palavra um pequeno círculo, forma próxima de um átomo, com um ponto central, o que ele diz ser seu logotipo. 
No Ateliê só temos nós dois, em silêncio. Atividade coletiva de Expressão Corporal, acontecendo na sala grande, no primeiro andar. Para minha surpresa nosso artista começa a cantar; “Ciranda cirandinha, vamos todos cirandar, vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar. O amor que tu me tinha era pouco e se acabou...” enquanto continua sua produção plástica.  Com a mão firme traça uma barra geométrica, com cor escura, no angulo esquerdo do papel, e, no alto uma abstração circular cor azul. Afasta o corpo para ver a produção, e, eu mesma levanto o papel para que ele possa contemplar seu trabalho, apreciar o que fez. Nada pergunto, apenas observo.  Satisfeito segura o papel vira ao contrário, e atrás, escreve seu nome, mais o da obra - Sonho inesquecível”.  E me indaga:
- Onde vou colocar?
- Vou procurar um lugar. Primeiro mostraremos seu trabalho para todos.
Em silêncio descemos as escadas. Percebo-o feliz pela produção. Eu, compensada por mais esta conquista cotidiana nesta Casa de convivências amistosas, afeto acolhedor, criatividade e pesquisa nos métodos de Nise da Silveira.
[Registro em fotos o processo criativo. Faço, depois, anotações num papel - 10/8/2016 - colaboradora _ Martha]
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