Novo Ano - 2016, Novas ideias, novas janelas se abrem.
A Casa das Palmeiras resistente segue o sonho de Nise da Silveira, seu caminho criativo e acolhedor.
Apontamentos atemporais
– frases de Nise da Silveira
Palavras de Nise da Silveira, esta aristocrata da humanidade pela
capacidade de mudar o destino das pessoas, o destino da psiquiatria. Capacidade
admirável de se relacionar com pessoas de qualquer nível social, intelectual;
profundo respeito pelo outro, sem discriminações; doentes, usuários, clientes,
amigos e estranhos. Era objetiva e altamente abstrata; algo de cósmico. Cada
locução era uma viagem no espaço e no tempo. Era comum os frequentadores do
Grupo de Estudos C. G. Jung anotarem o que a mestra dizia, mesmo o que,
aparentemente, parecia sem importância. Dr. Celso Arco Verde, médico
sanitarista e grande amigo da família, dizia: “Nise, uma espadachim, é de uma
síntese enorme. Cada frase, uma imensidão de pensamentos.”
Aqui frases desta mestra da inteligência:
“Os loucos veem a Deus.”
“Deus para mim é a grande força universal. Deus de Spinoza. Energia
infinita. A grande força universal está sempre presente.”
“A psicologia de Jung está mil anos à frente do nosso tempo. Jung já
afirmava desde o início do século que matéria e energia é uma só coisa.”
“O inconsciente é um imenso oceano, por vezes emergem umas imagens”. “A
psique humana é um fenômeno fantástico. A capacidade criadora é
extraordinária.”
Nise observava cada pessoa nos olhos;
os gestos, as atitudes: “Está gata já lhe adotou, pode ficar.”
“Meus livros de arte são instrumentos de trabalho. Tenho grandes
paixões, Leonardo da Vinci é um deles. Sou particularmente apaixonada é por
Rembrandt. Ele mergulhava profundamente como Leonardo. Observe a pintura dele.
Se você sonha, você mergulha - o da vigília e o do sonho - dois mundos.”
“Jamais quis definir o que é loucura. Compre em escafandro e mergulhe
junto como esquizofrênico.”
“Sempre me dirigi aos doentes pelo nome, jamais os chamo de pacientes.
Eu os trato como seres humanos, pessoas. A palavra paciente me irrita
muito.”
“Importante é conhecer a história pessoal do doente e depois compará-la
com a história, com os mitos, para poder entender o que se passa nas
profundezas. Procurar saber por que aparecem aquelas imagens, o que elas querem
dizer. Por que apareceu aquele mito na vivência cotidiana daquele
esquizofrênico?”
“A inteligência e a sensibilidade do esquizofrênico permanece intacta
mesmo na aparência de estar cingida, em ruínas. Verifica-se
isso com clareza quando encontra alguém com quem ele possa se relacionar
afetivamente.”
“A psique, mesmo do esquizofrênico, tem um potencial autocurativo.
Através do afeto forças internas podem se manifestar. O inconsciente se
expressa nas atividades criativas individuais.”
“Os esquizofrênicos são pessoas com antenas sutilíssimas, viajam longe,
mas não tem o bilhete da volta. O poeta tem o bilhete de ida e volta.”
“Psiquiatria é entender o processo psíquico interno. Os psiquiatras,
geralmente, nem olham para os seus clientes, muito menos nos olhos. Não há cura
possível sem relacionamento.”
“O nosso trabalho não visa criar artistas, é um tratamento através das
atividades plásticas. O olhar, as mãos, os gestos podem me dizer alguma coisa.
Sempre estive próxima de artistas plásticos, eles são menos burros que os
médicos. Não sou artista, mas como todo mundo, gosto de arte. Tenho vários
livros de arte aqui na minha biblioteca. Meu interesse pela expressão plástica
é mais no sentido da procura das expressões mais profundas do inconsciente. A
linguagem não verbal diz muito mais que a verbal.”
“Não sei fazer
nada sem procurar uma base mais profunda, sem ler, pesquisar. As referências
são fundamentais.”
“Não dissipe as imagens oníricas. O analista corre atrás do cervo, mas
não o mata, tem que pegá-lo vivo, estudá-lo vivo. Tem que pegar a imagem viva e
não estripá-la.”
“Nosso objetivo principal é entrar no mundo interno do doente, é
conhecer este mundo e que ele entre em contato conosco. Não é desejo de que o
doente se expresse de forma artística, o que nós queremos é que ele se expresse
em imagem, como linguagem. O simples fato de desenhar ou modelar é terapêutico.
Ele fica mais leve, diminuem o medo e as tensões.”
“Em matéria de educação não basta conhecer o mundo externo, é necessário
tomar seriamente em consideração a função imaginativa ao dar forma a conteúdos
do inconsciente.”
“É muito importante a pesquisa das imagens dos doentes esquizofrênicos.
O doente pode estar vivendo num mundo de confusão mental e ao se expressar em
imagens, pode revelar em símbolos unidade interior. É o que ocorre quando
desenham mandalas. Esquizo, em grego
quer dizer partido, separado, mas volta e meia me surpreendia com círculos
ordenados nos desenhos. Essas imagens falam uma linguagem própria.”
“O simples fato de pintar despotencializa a angustia dos doentes.
Observando as imagens percebe-se, mesmo sem que haja uma tomada de consciência.
Eles se sentem mais aliviados. Plasmando com as próprias mãos, a pessoa doente
vê que as imagens são menos apavorantes. Vê-se uma considerável melhora na vida
pessoal, nas relações externas.”
“Produzir imagens expressas em emoções já é por si terapêutico, é
remédio. Prefiro as atividades expressivas à camisa de força química. Não que
seja contra os remédios, longe de mim, mas sou avessa às doses elevadas de
psicofármacos.”
“Para Freud as imagens plásticas são meras projeções do inconsciente,
estão lá. Para Jung é bem mais que simples projeções do inconsciente. O fato de
desenhar, pintar, esculpir, modelar, já é por si mesmo terapêutico.”
“Fui guiada pela intuição.”
“Tenho orgulho de dizer que transformei o serviço subalterno em serviço
de alta categoria. O trabalho que se fazia na Terapia Ocupacional era tudo
repetitivo quando fui designada para lá. Eles faziam tudo igual todos os dias.
Não existe coisa pior. Criamos oficinas de trabalho criativo, nada era
repetitivo, e chegamos a criar 17 oficinas expressivas. Tínhamos a pintura e a
modelagem como prioridade. Através das imagens podíamos conhecer os processos
psíquicos, o que se passa nas camadas mais profundas do ser.”
“Gosto de mergulhadores, pessoas que estudam a fundo o mundo interno. A
maioria das pessoas tem medo do inconsciente, ficam na superfície. Preciso de
mergulhadores com escafandro. Quem quer estudar psicologia que compre um
escafandro e mergulhe com o esquizofrênico.”
“Não compreendo briga entre escolas. Diferentes teorias representam
abordagens diferentes de problemas comuns.”
“Porque passei pela prisão, eu compreendo as pessoas e os animais que
estão doentes, pobres, que sofrem. Eu me identifico com eles. Sinto-me um
deles”.
“Foi através da pintura dos doentes do Museu de Imagens do Inconsciente
que a psicologia de Jung entrou no Brasil.”
“O esquizofrênico tem medo do ser humano. Durante sua vida acumulou uma
série de frustrações afetivas que levaram a viver em outro mundo. A aproximação
com os animais é quando percebe que já não pode mais contar com o ser humano.”
“Todos nós temos uma parcela de mal. Não somos cem por cento bonzinhos.
Projetamos ou inibimos forças instintivas. Sempre pensamos que o mal está é no
outro, não está na gente. Isso pode acontecer a nível pessoal ou a nível de nação.”
“Faço tudo com paixão. Escrevo com paixão, sou uma pessoa apaixonada.”
“A psiquiatria, para mim, é um estudo do profundo do profundo do ser.
Nunca eu concordei com o conceito do doente mental denunciado crônico,
embotado. Eu os vejo capazes de finuras, e nem todos nós somos capazes de
finuras.”
“A solidão é problema difícil e muito encoberto. A presença pode inibir
ou catalisar. O médico se transforma junto com seu analisado.”
“O fogo não é nada, inferno é o congelamento. Não confundir congelamento
com indiferença, o congelamento, a petrificação é sofrimento. Um bom
observador, com bom desconfiômetro observa os olhos vivos do ser petrificado.”
“O desejo de contato nunca se manifesta em palavras e sim em gestos,
contatos. É preciso grande delicadeza no contato, do contrário pode assustar. É
preciso uma longa paciência.”
“Aquele que convive com os símbolos, ele próprio sofre os fenômenos das
transformações. Nos iniciados de Eleuses, não havia discriminações no uso de
símbolos. Para Jung o símbolo é um corpo sutil; nem racional nem irracional,
nem material nem espiritual. O símbolo não precisa ser bem entendido, ele
sempre fascina. Através de símbolos há mudanças, outros níveis de consciência.
A árvore é um símbolo de proteção, é nutridora, é símbolo materno; visão
cósmica do mundo que perpetuamente se renova.”
“A minha palavra preferida é liberdade, liberdade.”
“A Casa das Palmeiras é muito deficitária, não tem coleiras, convênios e
jamais quisemos. Convênios aparecem com exigências e nós queremos liberdade.
Convênio dita regras, certas normas. Muito difícil.”
“Sempre questionava a noção da psiquiatria clássica de que os
esquizofrênicos tivessem a inteligência esfacelada, arruinada. Ao penetrar
nesse mundo hermético fui surpreendida ao tomar consciência de como eles se
revelavam como seres capazes de criar beleza e como são dotados de
subjetividade.”
“Para começar a estudar é preciso, de início, capinar. Capinar, capinar,
capinar... Intensamente. Somente, após longo trabalho de capinação é que você
poderá trocar o ancinho por um longo pente, e passá-lo sedosamente nos cabelos
de uma mulher.”
“Desprezo as pessoas que se julgam superiores aos animais. Os animais
têm a sabedoria da natureza. Eu gostaria de ser como o gato: quando não se quer
saber de uma pessoa, levanta a cauda e sai. Não tem papo”.
“Os gatos são os seres mais lindos, inteligentes e independentes do
mundo. Essa é a razão por que os homens têm tanta dificuldade de se relacionar
com eles e os perseguem indiscriminadamente desde o início dos tempos”.
“Esta palavra ‘paciente’, ela não deveria existir em nosso vocabulário.
Esta palavra diminui a pessoa humana, colocando-a numa posição passiva. São
clientes da Casa.”
“Só os loucos e os artistas podem me compreender”.
“Nunca sacrifiquei a qualquer modernismo o meu próprio eu. Caminhada
dura, mas a única que vale todos os sacrifícios.” (22/6/1999)
“O silêncio é fundamental. E para criar, é preciso privacidade.”
“Eu sou do mundo das imagens. A leitura das imagens. Não dissipe a
imagem onírica. Tem que pegar a imagem viva e não estripá-la.” (4/4/1994).
“O estudo das imagens é acompanhar nesta viagem das imagens. Picasso
pintou Gernica, o militarismo alemão, acompanhado do sofrimento violento.
Ninguém faz nada sozinho.”
"Um chapeu para cada cabeça e não o mesmo chapeu para todas as cabeças."
(Apontamentos- Senhora das imagens internas – Escritos dispersos de Nise da Silveira – Org. M.
P. F. __ BN, RJ , 2008).
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