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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Casa das Palmeiras - Ateliê Livre


As atividades do Ateliê Livre na Casa das Palmeiras, nas férias, mostram, mais uma vez, a riqueza das produções plásticas expressivas realizadas com atenção plena e prazer, seguidas de fraternal conversa no lanche preparado pela
 grande Maria, nossa terapeuta nata.
Trabalhos realizados em 14/janeiro/2014
desenho
 
colagem
Visitante trabalhando no Ateliê Livre  

Palavras de Nise da Silveira - recortes
[Conferência feita na abertura do simpósio A Esquizofrenia em Imagens, comemorativo do XXV aniversário da STOR -CPPII, 13 -16 de setembro de 1971].
[Publicado na Revista do Grupo de Estudos C.G.Jung -
QUATERNIO- 1973 - RJ  pgs. 123 -136]

 “Os processos de representação que se realizam no outro nunca nos são acessíveis diretamente, mas apenas nas suas reações psicomotoras e principalmente através da linguagem ou das artes plásticas”, diz Kretschmer.
(...)
A pintura nos permitirá acesso a imagens oriundas das profundezas do inconsciente. Às vezes até parece que essas imagens se projetam nitidamente sobre cartolinas e telas, e que o pintor apenas contorna-as com o seu pincel, tanto elas são vivas e fortes, algumas belas, outras terríveis.
Como acompanharemos os acontecimentos da travessia por “estados do ser cada vez mais perigosos?” (Artaud). Ainda que o manejo da linguagem verbal permanecesse perfeito, esta linguagem provavelmente seria inadequada para exprimir as vivencias nesses outros estados do ser. Sua esfera de ação é traduzir o pensamento lógico, é construir o discurso. Já na expressão dos sentimentos experienciados mesmo na faixa da normalidade, começam os fracassos da linguagem verbal. Todos os namorados sabem disso. Por este motivo há muitos excelentes prosadores e são raros os grandes poetas líricos. Também os místicos de todas as religiões sempre afirmaram que lhes era impossível dizer em palavras aquilo que haviam vivenciado nos encontros com o Absoluto.
(...)
 Jung dá máximo valor a função criadora de imagens. Na sua psicoterapia, desenho e pintura são considerados fatores que mesmo podem contribuir para o processo de auto-evolução do ser.
(...)
Por intermédio da pintura “O caos aparentemente incompreensível e incontrolável da situação total é visualizado e objetivado; poderá ser observado a distancia pelo consciente, analisado e interpretado. O efeito deste método é evidentemente devido ao fato de que a impressão primeira caótica ou aterrorizante é substituída pela pintura que, por assim dizer, a recobre. O tremendum é exorcizado pelas imagens pintadas, torna-se inofensivo e familiar e, em qualquer oportunidade que o doente recorde a vivência original e seus ameaçadores efeitos emocionais, a pintura interpõe-se entre ele e a experiência, e assim mantém o terror a distancia” (V.3, 260). Muitas e muitas vezes testemunhei essa despotencialização de imagens aterrorizantes, por meio da pintura. Para ser obtido esse efeito, é frequente que a mesma imagem tenha de ser desenhada ou pintada repetidas vezes. Não se trata de estereotipias nesses casos, mas de um difícil trabalho de desgaste da energia de uma imagem perturbadora.
(...).
A pintura dará ao doente que começa a lançar frágeis pontes para o mundo real, oportunidade de utilizar a linguagem emocional das imagens quando ainda é incapaz de comunicação verbal. Surgem então pinturas de fragmentos da realidade carregadas de vivencias pessoais intensas. O exercício da linguagem plástica ajuda, nesses casos, ao estabelecimento das comunicações verbais e melhora os contatos interpessoais.
(...)
 “Nossa observação cada vez mais confirma que a pintura não só proporciona esclarecimento para processos patológicos, mas constitui igualmente verdadeiro agente terapêutico”. Era uma constatação empírica que continuou a ser confirmada nos anos subsequentes até a data presente.
(...)
Estas imagens surgidas do inconsciente, do mundo primordial, têm muitas coisas a revelar sobre os dinamismos da vida psíquica e sobre os mistérios da atividade criadora. 

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