As atividades do Ateliê Livre na Casa das Palmeiras, nas férias, mostram,
mais uma vez, a riqueza das produções plásticas expressivas realizadas com
atenção plena e prazer, seguidas de fraternal conversa no lanche preparado pela
grande Maria, nossa terapeuta nata.
Trabalhos realizados em 14/janeiro/2014
Visitante trabalhando no Ateliê Livre
Palavras de Nise da
Silveira - recortes
[Conferência
feita na abertura do simpósio A
Esquizofrenia em Imagens, comemorativo do XXV aniversário da STOR -CPPII,
13 -16 de setembro de 1971].
[Publicado na
Revista do Grupo de Estudos C.G.Jung -
QUATERNIO-
1973 - RJ pgs. 123 -136]
“Os processos de representação que se realizam
no outro nunca nos são acessíveis diretamente, mas apenas nas suas
reações psicomotoras e principalmente através da linguagem ou das artes
plásticas”, diz Kretschmer.
(...)
A pintura nos
permitirá acesso a imagens oriundas das profundezas do inconsciente. Às vezes
até parece que essas imagens se projetam nitidamente sobre cartolinas e telas,
e que o pintor apenas contorna-as com o seu pincel, tanto elas são vivas e
fortes, algumas belas, outras terríveis.
Como
acompanharemos os acontecimentos da travessia por “estados do ser cada vez mais
perigosos?” (Artaud). Ainda que o manejo da linguagem verbal permanecesse
perfeito, esta linguagem provavelmente seria inadequada para exprimir as
vivencias nesses outros estados do ser. Sua esfera de ação é traduzir o
pensamento lógico, é construir o discurso. Já na expressão dos sentimentos
experienciados mesmo na faixa da normalidade, começam os fracassos da linguagem
verbal. Todos os namorados sabem disso. Por este motivo há muitos excelentes
prosadores e são raros os grandes poetas líricos. Também os místicos de todas
as religiões sempre afirmaram que lhes era impossível dizer em palavras aquilo
que haviam vivenciado nos encontros com o Absoluto.
(...)
Jung dá máximo valor a função criadora de
imagens. Na sua psicoterapia, desenho e pintura são considerados fatores que
mesmo podem contribuir para o processo de auto-evolução do ser.
(...)
Por intermédio
da pintura “O caos aparentemente incompreensível e incontrolável da situação
total é visualizado e objetivado; poderá ser observado a distancia pelo
consciente, analisado e interpretado. O efeito deste método é evidentemente
devido ao fato de que a impressão primeira caótica ou aterrorizante é
substituída pela pintura que, por assim dizer, a recobre. O tremendum é
exorcizado pelas imagens pintadas, torna-se inofensivo e familiar e, em
qualquer oportunidade que o doente recorde a vivência original e seus
ameaçadores efeitos emocionais, a pintura interpõe-se entre ele e a
experiência, e assim mantém o terror a distancia” (V.3, 260). Muitas e muitas
vezes testemunhei essa despotencialização de imagens aterrorizantes, por meio
da pintura. Para ser obtido esse efeito, é frequente que a mesma imagem tenha
de ser desenhada ou pintada repetidas vezes. Não se trata de estereotipias
nesses casos, mas de um difícil trabalho de desgaste da energia de uma imagem
perturbadora.
(...).
A pintura dará
ao doente que começa a lançar frágeis pontes para o mundo real, oportunidade de
utilizar a linguagem emocional das imagens quando ainda é incapaz de comunicação
verbal. Surgem então pinturas de fragmentos da realidade carregadas de
vivencias pessoais intensas. O exercício da linguagem plástica ajuda, nesses
casos, ao estabelecimento das comunicações verbais e melhora os contatos
interpessoais.
(...)
“Nossa observação cada vez mais confirma que a
pintura não só proporciona esclarecimento para processos patológicos, mas
constitui igualmente verdadeiro agente terapêutico”. Era uma constatação
empírica que continuou a ser confirmada nos anos subsequentes até a data
presente.
(...)
Estas
imagens surgidas do inconsciente, do mundo primordial, têm muitas coisas a
revelar sobre os dinamismos da vida psíquica e sobre os mistérios da atividade
criadora.
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