Nise da Silveira - Ano Zero / Entrevista - n.º 5 - Setembro de 1991- RJ.
“A linguagem plástica é uma forma de
expressão. Eu não chamo de arte, nem de longe tal pretensão. Não garanto que
sejam artistas os trabalhos das pessoas que frequentam os ateliês. Não sou eu
quem decide se é arte ou não. A função do trabalho não é artística, é expressiva.
Atividade expressiva das emoções, dos conteúdos internos. Não gostava do nome
“terapêutica ocupacional”, foi quando um cliente na Casa das Palmeiras, na
oficina de trabalhos manuais, tocando vários novelos de lã ele disse: como é gostoso amassar... trabalhar com
tecidos é a emoção de lidar. Então pensei: eureka! Preferi em vez de
terapêutica ocupacional adotar daí em diante emoção de lidar. Muito importante que o monitor ajude ao doente a
descobrir a beleza do material com que trabalha.”
“Sabemos muito pouco da mente, da
natureza psíquica, das emoções. Desenhar, pintar, modelar, gravar, depois
colocar os nomes, datar os trabalhos e guardá-los em série estas imagens
plásticas para pesquisa é ter a possibilidade de um dia, no futuro, se chegar a
uma compreensão mais clara e profunda do mundo interno destas pessoas tão
enigmáticas, tão misteriosas. A ciência sabe muito pouca a este respeito. E o
método para se aproximar de um conhecimento revelador é basicamente o pré-verbal,
a pré-palavra. Temos oficinas de encadernação,
carpintaria, música, teatro, dança, mímica, botânica, bordado, costura. Atividades expressivas podem apontar os
caminhos da vida interna.”
Nota: essas oficinas, ateliês, estiveram ativas por muitos anos. Por falta de profissionais, algumas foram desativadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário