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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Contos de Fada como atividade terapêutica

A atividade de Contos de Fada acontece regularmente, desde 1986, atualmente, às quintas-feiras na grande sala da Casa das Palmeiras, no 1º andar e conta com a participação de muitos clientes atentos à narrativa da contadora de histórias tradicionais do imaginário popular do todos os povos.
Este trabalho é planejado por colaboradores específicos que tem a responsabilidade de selecionar o Conto apropriado aos anseios e as dificuldades dos clientes. Narrar os Contos tomando como base a história escolhida, observar atentamente e anotar todos as reações, movimentos, olhares e falas que possam ocorrer por serem significativas. Tudo é recurso para se apreender o processo de reorganização emocional e mental, o progresso de cada cliente.
Inicia-se esta atividade com a contação do Conto; voz suave, nada monocórdica e sim melódica, sem exageros. Terminado o contar da história passamos para um breve tempo de uns minutos de silêncio onde nos olhamos afetuosamente e em seguida a narradora faz algumas perguntas com cuidados e naturalidade, a alguns dos ouvintes, como por exemplo: O que você (...) mais gostou? Como era o chapéu do príncipe? O castelo como era? A carruagem era de que tamanho? A floresta, como vêem a floresta? E a casa do camponês? O anel cheio de pedras preciosas, quais pedras? O que não gostou na história? A ranzinha era de que cor? Como você (...) vê o cavalo? Tudo de acordo com a história narrada. Consciente e inconsciente se aproximam com as realidades do mundo imaginário
Outra maneira de se trabalhar nesta atividade é motivar o mundo das imagens através das produções plásticas oferecendo material como papéis, lápis de cera ou lápis de cor. A produção criadora é sempre espontânea; desenha-se o que se tenha vontade, embora possamos sugerir algum motivo especial como o castelo do rei ou um animalzinho que tenha aparecido numa das histórias. Nada deve ser imposto, apenas sugerir quando se percebe dificuldades para expressar a imaginação.
A escolha das histórias é sempre muito cuidadosa já que se está visando trabalhar com pessoas portadoras de estados emocionais com gravíssimas alterações psíquicas. Não é qualquer história que deva ser contada. Os Contos escolhidos são relatados de histórias que pertencem à tradição oral do imaginário popular, e que na sua estrutura possamos encontrar símbolos e fatos que toquem o inconsciente dos ouvintes em geral.
Há uma preferência, orientada por Dra. Nise da Silveira, de que terapeuticamente as histórias escolhidas devam pertencem à coleção dos Irmãos Grimm, em razão de conterem em si conteúdos de aproximação entre consciente e inconsciente, reveladores de estados internos e externos. O que encontramos, também, nos contos do folclore brasileiro, em especial as histórias de encantamento de Câmara Cascudo. São narradas histórias dos nossos índios brasileiros e, também, contos de outros povos como os europeus, americanos, orientais e/ou africanos.
Em ocasiões específicas os clientes são convidados a serem os autores de suas estórias. Á partir de um tema proposto, lhes é sugerido que juntos, criem um corpo e um final para o conto. O mediador que preferencialmente será um colaborador da Casa fica responsável para coordenar a junção desses fragmentos até que se tenha uma estória com princípio, meio e fim. Dá-se então a atividade de Conto Coletivo.
Foi nesse ambiente que C., freqüentadora assídua da atividade de Contos de Fada, mas que aparentemente não demonstrava qualquer interesse pela atividade, e que depois de um ano, resolveu pedir uma história de “um príncipe encantado”. Ficou resolvido então, que “A princesa e a bola de ouro” (Irmãos Grimm) era o conto que mais se adequava ao pedido da cliente. Após ouvi-lo atentamente, C., para a surpresa de muitos, resolveu comentá-lo com muita propriedade e ênfase em alguns aspectos muito importantes para ela. Esse comportamento vem se repetindo desde então, dando pistas relevantes para colaboradores e estagiários.
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