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terça-feira, 22 de julho de 2025

Arquivo _ memória _ modelagem


José Bastos __ Escultura em gesso simbolizando a libertação do doente mental de uma prisão. Acervo da Casa das Palmeiras

      A Casa das Palmeiras, este pequeno território, oferece possibilidades de seus frequentadores se expressarem de forma espontânea em cada oficina criativa. Num clima de liberdade cada pessoa que esteja em tratamento é motivada, estimulada, a traduzir as suas emoções profundas, as quais emergem do inconsciente em imagens plásticas, música, trabalhos manuais, teatro, dança, gestos e palavras.

    O próprio ato de criar imagens simbólicas já é em sim uma ação curativa, como afirma Nise da Silveira em sua obra Imagens do Inconsciente: “A psicoterapia junguiana tem por meta não só a dissolução de conflitos interpessoais, mas favorece o desenvolvimento das ‘sementes criativas’ inerentes ao indivíduo doente. E é justamente em atividades feitas com as mãos que, com bastante frequência, se revela a vida dessas ‘sementes criativas’.” (Ed. Alhambra, 1981, p.102). E continua: “Em vez dos impulsos arcaicos exteriorizarem-se desabrigadamente, lhe oferecemos o declive que a espécie humana sulcou durante milênios para exprimi-los: dança, representações mímicas, pintura, modelagem, música. Será o mais simples e o mais eficaz.”

    Através das várias atividades expressivas, das imagens simbólicas, a pessoa doente terá a oportunidade de melhor enfrentar seus conflitos internos tão terrificantemente desestruturados, fará naturalmente a transferência de energia de um nível inconsciente para outro mais consciente

    No desenho ou pintura, nos diz Carl Gustav Jung: “O tremendum é exorcizado pelas imagens pintadas, torna-se inofensivo e familiar e, em qualquer oportunidade que o doente recorde a vivência original e seus efeitos emocionais a pintura interpõe-se entre ele e a experiência, e assim mantém o terror à distância.” (collected works-3, p. 261).

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   Nise da Silveira 1905 – 1999] 

   Jung dá máximo de valor à função criadora de imagens. Na sua psicoterapia, desenho e pintura são considerados fatores que podem contribuir para o processo de auto-evolução do ser.

   Quando o neurótico já está em condições de sair do estado mais ou menos passivo de dependência das interpretações do analista, Jung o induz à ação – isto é, pede-lhe que desenhe ou pinte as imagens de sonho que mais o impressionaram. Não se trata de fazer arte – trata –se, na expressão de Jung, de “produzir uma eficácia viva sobre o próprio individuo”. “Dar forma material à imagem interna obriga a considerar atentamente cada uma de suas partes que poderão deste modo desenvolver toda a sua força evocadora”. Correntemente, a pessoa detém-se sobre as imagens de seus sonhos apenas durante a sessão analítica. Logo depois é absorvida no tumulto cotidiano. As imagens esvaem-se.      Outra coisa será tentar captá-las sobre o papel, lutando com pincéis e cores e tanto melhor quanto for o esforço e tempo dedicado a este trabalho. O indivíduo necessitará cada vez menos de seu analista. Descobre-se, por sua própria experiência, que a formação de uma imagem simbólica libera-o de uma condição de sofrimento e o ajuda a galgar outro nível de consciência, torna-se independente por autocriação, isto é, dando forma a suas imagens internas ele se modela simultaneamente a si mesmo.

 O que acaba de ser dito refere-se a neuróticos e a todos aqueles que buscam o desenvolvimento de sua personalidade, a própria individuação.   

    Revista do Grupo de Estudos C.G. Jung /  Quaternio, 1973, págs. 131 e 132.

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   Modelagem _ Vasos _ acervo fotográfico _ Mãos criativas engendram imagens espontâneas do inconsciente





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