José Bastos __ Escultura em gesso simbolizando a libertação do doente mental de uma prisão. Acervo da Casa das Palmeiras
O
próprio ato de criar imagens simbólicas já é em sim uma ação curativa, como
afirma Nise da Silveira em sua obra
Imagens do Inconsciente: “A psicoterapia junguiana tem por meta não só a
dissolução de conflitos interpessoais, mas favorece o desenvolvimento das ‘sementes
criativas’ inerentes ao indivíduo doente. E é justamente em atividades feitas
com as mãos que, com bastante frequência, se revela a vida dessas ‘sementes
criativas’.” (Ed. Alhambra, 1981, p.102). E continua: “Em vez dos impulsos
arcaicos exteriorizarem-se desabrigadamente, lhe oferecemos o declive que a
espécie humana sulcou durante milênios para exprimi-los: dança, representações
mímicas, pintura, modelagem, música. Será o mais simples e o mais eficaz.”
Através
das várias atividades expressivas, das imagens simbólicas, a pessoa doente terá
a oportunidade de melhor enfrentar seus conflitos internos tão
terrificantemente desestruturados, fará naturalmente a transferência de energia
de um nível inconsciente para outro mais consciente
No
desenho ou pintura, nos diz Carl Gustav
Jung: “O tremendum é exorcizado
pelas imagens pintadas, torna-se inofensivo e familiar e, em qualquer
oportunidade que o doente recorde a vivência original e seus efeitos emocionais
a pintura interpõe-se entre ele e a experiência, e assim mantém o terror à
distância.” (collected works-3, p. 261).
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Nise da Silveira 1905 – 1999]
Jung dá máximo de valor à função criadora de imagens. Na sua psicoterapia, desenho e pintura são considerados fatores que podem contribuir para o processo de auto-evolução do ser.
Quando o neurótico já
está em condições de sair do estado mais ou menos passivo de dependência das
interpretações do analista, Jung o induz à ação – isto é, pede-lhe que desenhe
ou pinte as imagens de sonho que mais o impressionaram. Não se trata de fazer
arte – trata –se, na expressão de Jung, de “produzir uma eficácia viva sobre o
próprio individuo”. “Dar forma material à imagem interna obriga a considerar
atentamente cada uma de suas partes que poderão deste modo desenvolver toda a
sua força evocadora”. Correntemente, a pessoa detém-se sobre as imagens de seus
sonhos apenas durante a sessão analítica. Logo depois é absorvida no tumulto
cotidiano. As imagens esvaem-se. Outra coisa será tentar captá-las sobre o
papel, lutando com pincéis e cores e tanto melhor quanto for o esforço e tempo
dedicado a este trabalho. O indivíduo necessitará cada vez menos de seu
analista. Descobre-se, por sua própria experiência, que a formação de uma
imagem simbólica libera-o de uma condição de sofrimento e o ajuda a galgar outro
nível de consciência, torna-se independente por autocriação, isto é, dando
forma a suas imagens internas ele se modela simultaneamente a si mesmo.
O que acaba de ser
dito refere-se a neuróticos e a todos aqueles que buscam o desenvolvimento de
sua personalidade, a própria individuação.
Revista do Grupo de Estudos C.G. Jung / Quaternio, 1973, págs. 131 e 132.
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Modelagem _ Vasos _ acervo fotográfico _ Mãos criativas engendram imagens espontâneas do inconsciente