Conceito de Imagens do Inconsciente nas Expressões plásticas.*
Nise da Silveira aponta alguns
aspectos importantes para conceituarmos a noção de imagem do inconsciente nas expressões plásticas. Ao relatar seus
achados, provindos da relação direta com seus clientes, comenta:
“Mas
aconteceu que desenho e pintura
espontâneos revelaram-se de tão grande interesse
científico e artístico que esse atelier cedo adquiriu posição especial.” (2015, p. 15 grifos meus)
A espontaneidade se revelou um
aspecto essencial na produção dessas imagens, que surpreendem Nise, porque acontecem. Algo espontâneo se revela, surge, brota. Esse
revelar-se espontâneo é um aspecto fundamental do conceito de imagem do inconsciente.
Ela acontece naturalmente durante o processo criativo.
Essa noção ocupa um lugar muito
especial no método proposto na Casa das Palmeiras, pois requer uma atitude de
abertura e acolhimento dessas imagens. Requer acompanhar esses processos espontâneos,
dando mergulhos em estados internos, vivos e atuantes. Não interferir nesses processos
é um desafio imenso, contudo, mesmo que haja momentaneamente interferências,
nota-se que as imagens se impõem, redesenhando formas e situações, movimentando-as.
“Era surpreendente verificar a
existência de uma pulsão configuradora
de imagens sobrevivendo mesmo quando a personalidade estava desagregada.” (Ibid.)
A ideia de uma pulsão configuradora
remete a imagem de algo que se movimenta, que pulsa. Em nossos ateliers
observamos profundas relações entre os estados internos e as produções dos
clientes. Percebemos esse movimento em nuances
de cores, formas, figuras, traçados que expressam ricamente os mais diferentes estados do ser.
Essas produções simbólicas, em sua
maioria se repetem, quer em temas, quer em figuras ou abstrações. Processos
abstratos e figurativos são aspectos plásticos básicos nessa linguagem que
compõem formas e sentidos.
Na Casa das Palmeiras encontramos
obras figurativas em abundância. Há também aquelas obras que parecem estar num
estado intermediário, transitando entre o figurativo e o abstrato ou entre
‘integrar’ e ‘dissolver’. E entre as formas figurativas observamos a presença
significativa dos geometrismos, quer isoladamente ou compondo a estrutura como
um todo da imagem.
Sem dúvida as imagens do inconsciente
são de profunda riqueza simbólica. Encontra-se nessas produções, imagens
dramáticas, enigmáticas, infantis, eróticas, primitivas. Na França essas
produções foram incluídas entre o que se chamou de Arte Bruta, tendo no Brasil recebido o nome de Arte Virgem (denominação de Mario Pedrosa, crítico de arte, que muito apoiou a obra de Nise da Silveira).
*Patricia Amaral Motta.
Psicóloga. Coordenadora de Psicologia da Casa das Palmeiras – RJ.
Referência bibliográfica:
SILVEIRA, Nise. Imagens do inconsciente. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2015.
Parabéns Patricia Amaral Motta pelo belo artigo.
ResponderExcluirPatrícia, gostei muito.
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