sábado, 6 de agosto de 2011

A emoção de lidar na Oficina Teatral



“Toda Criatura humana, seja em que estágio estiver, em que condições viver, tem necessidade de criar e comunicar o que criou. [ ] É através deste processo que todo mundo subterrâneo vem à tona, pode ser manipulado e transformado em algo belo ou não, mas que satisfaz a quem criou, pela liberdade que traz.” (Hilton) *
A Oficina de Teatro ocorre, na Casa das Palmeiras, todas as quintas-feiras, às 16h40. Os clientes da Casa encontram no tempo-espaço da linguagem teatral, um modo criativo, lúdico e prazeroso de revelar no corpo, na voz, no gesto e na emoção, os seus conteúdos que emergem do mar profundo do inconsciente. As imagens internas revelam-se em representações no espaço cênico. No Teatro, a bela complexidade da ferramenta corporal humana torna-se o veículo criativo para a expressão dos recônditos da alma humana. Cada mínimo gesto, som, ou mesmo a ausência de um (ou de ambos), aparecem amplificados e recheados de significações. E é justamente por essa natureza, que esta arte faz-se propulsora de efeitos terapêuticos.
A Arte Teatral é um grande ritual em si. A atividade desenvolve-se intuitiva e livremente em abertura ao ato criador, porém, dentro de um planejamento objetivo. O espaço é organizado em semicírculo sugerindo uma ‘semiarena’ teatral. Essa pequena adaptação já é um movimento importante por inserir clientes, colaboradores e estagiários automaticamente na solenidade misteriosa do ‘rito’ teatral. Uma vez neste universo presente, são propostas variações de exercícios desta linguagem, que exploram minuciosamente a riqueza do ser humano (respeitando-se limites), além do tempo reservado para a livre expressão – onde os clientes podem usá-lo espontaneamente e apresentar suas próprias criações.
Durante o ano, peças curtas são realizadas dentro do calendário de celebrações tradicionais, tais como Festa da Primavera, Junina e Natal. São sempre momentos de incontida emoção. Os clientes se entusiasmam e sentem-se motivados a apresentarem suas criações coletivas aos seus familiares e aos amigos da Casa. Motivação que se expande em seus anseios por participarem cada vez mais do fazer teatral. Estas apresentações também possuem sua relevância por gestos de sociabilidade.
A participação dos clientes é espontânea. Pode ocorrer de, naturalmente, os primeiros contatos de um cliente com o Teatro ser no local de apenas observador, sem envolver-se fisicamente com as propostas. E deste mesmo modo, estará participando com efetividade (noutra espécie de envolvimento) do universo teatral. Cada pessoa tem seu tempo próprio de assimilar as demandas deste fazer, para então sentir-se confiante e motivada a participar e doar-se ativamente.
O trabalho desenvolvido nas Artes Cênicas não visa formação de atores.
Na experiência individual e coletiva teatralizada, o afeto catalisador ganha lente de aumento. Avoluma-se em voz, intensidade, corpo, toque, melodia, contato com o outro, ritmo, emoção e total liberdade! A alma tonifica-se em sua verdade e dá saltos livres sobre o ‘nosso tablado’!
“A criatividade é o catalisador por excelência das aproximações de opostos. Por seu intermédio, sensações, emoções, pensamentos, são levados a reconhecerem-se entre si, a associarem-se, e mesmo tumultos internos adquirem forma.”
Nise da Silveira. **

*/ ** (Silveira, Nise da - “Casa das Palmeiras – A emoção de lidar – Uma experiência em Psiquiatria”)
Patrícia Gois (Colaboradora – Teatro)

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