quarta-feira, 7 de julho de 2010

Ateliê de Artes Aplicadas

O Setor de Artes Aplicadas utiliza como instrumentos as atividades de crochê, tricô, tapeçaria, confecção de bijuterias, tear, costura, bordados, entre outros. Através dessas práticas, o cliente cria, transforma, dá forma, constrói, destrói, elabora, planeja tudo aquilo que sua imaginação lhe permitir. Este setor funciona diariamente a partir de 13 horas e conta com a participação de duas monitoras que se alternam durante a semana e têm como funções principais, convidar, estimular e auxiliar o cliente em seus objetivos, observando sua caminhada nesse processo criativo sem nele interferir, exceto quando lhe é solicitado.
A freqüência nesse atelier não se limita a clientes do sexo feminino; muitos homens também participam das atividades de tapeçaria, bijuterias, retalhos e até mesmo o tricô. Dentre esses freqüentadores, que são em média 10, podemos destacar quatro (4) que comparecem assiduamente ao local e outros que, mesmo sem conhecer técnicas de manuseio de agulhas ou linhas, dão forma às suas imagens internas.
Certa vez, uma cliente, após exasperar-se com um estagiário com o qual tinha uma relação de afeto muito particular, sentindo-se arrependida desejou realizar algum trabalho. Pediu a uma colaboradora que lhe auxiliasse na confecção de um pequeno lenço, pretendia fazer uma borda de crochê e alguns bordados. Iniciou seu trabalho de maneira muito caprichosa como tudo o que faz e, ao longo de sua atividade, foi elaborando não apenas o trabalho, mas também seus sentimentos. Resolveu que não seria mais um lenço, mas sim um travesseiro e nele deveria conter desenhos e uma frase com o nome do estagiário e em seguida a expressão – Eu te amo – que, segundo ela, significaria seu pedido de desculpas pelo que havia acontecido. Dessa maneira, G. conseguiu não só realizar um lindo trabalho, também organizou seus sentimentos em relação ao rapaz e ao que havia provocado. Encontrou uma maneira criativa e carregada de sentido, para expressar seus sinceros pedidos de desculpas.
Outra cliente que freqüenta o atelier assiduamente e nele confecciona sempre muitos cachecóis e mantas de tricô, diz que os faz porque em uma época específica de sua vida, sentiu muito frio. Hoje em dia declara ainda sentir muito frio, mesmo que o dia esteja ensolarado e quente. Já o cliente B., retornou ao setor de artes aplicadas depois de longo período afastado, dizendo que queria fazer um trabalho todo branco para simbolizar “sua paz interior”, pediu também uma caixa nova (toda branca) e que nela fosse colocado seu último nome, J.
É importante que cada monitor possa observar cuidadosamente o ritmo dos usuários desse atelier, pois ali não se visa o resultado final, mas o processo de criação durante o qual coisas significativas podem ser reveladas. Todas as observações são devidamente anotadas, relatadas e discutidas no final do expediente com a equipe técnica.
Foi nesse setor que surgiu, anos atrás, a expressão adotada por Doutora Nise da Silveira para
designar o trabalho realizado pelos clientes. Não se tratava apenas de Terapêutica Ocupacional,
mas sim, Emoção de Lidar, termo criado pelo cliente L.C. ao terminar a confecção de um gato com lãs e tecido macio. O setor de Artes Aplicadas, através de seus retalhos de variados padrões, linhas e lãs de muitas cores e texturas, seus botões e paetês com brilhos furta-cor combinados com um ambiente repleto de afeto e respeito ao próximo, apelam diretamente ao potencial criativo de cada um de seus participantes que, sem economizar em suas emoções, tecem aos poucos um psiquismo mais organizado.

Texto/ 2009 - Rose Ruperti, CRP. 5/25275 – ex-colaboradora.
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