terça-feira, 31 de julho de 2012

Jung quer dizer Jovem - Artur da Távola



Freud, Stanley Hall, Jung. Atrás A.A. Brill, Ernest Jones, Sandor Ferenczi. Clark University, 1906.
 Jung quer dizer Jovem - Artur da Távola
Matéria de 14.12.1974 – O Globo
O fato é que nos dias que correm, no mundo inteiro, as obras de Jung saem da névoa dos preconceitos e resistências e saem também dos verbetes (sim, porque verbete embora útil é fogo: reduz uma obra ou uma vida a dez linhas de frases corretas, mas gerais sobre o cara, tipo: Jung: discípulo dissidente de Freud que com Adler adotou a base das teorias daquele, mas discordou quanto ao conceito de libido.... e vai por aí a fora sem que a gente fique sabendo a extensão real de seu pensamento), ganhando o entendimento de amplas faixas.
Isso, aliás, é clássico. Qualquer pessoa na frente de seu tempo, ou sabe que vai morrer meio na pior e continua, porque acredita muito, ou então desiste e cai no “realismo” dos cotidianos e dos contemporâneos, abdicando da capacidade de ver adiante. A angústia é um dado da existência. Ela vem em qualquer dos casos. Mas isso é outro papo.
O que gostaria de analisar é por que Jung é tão apreciado pelos jovens! Gozado: a palavra jung em alemão quer dizer jovem, o que dá, como bem observou meu amigo Arnaldo Riesemberg um nome assim de rei antigo: “Carlos o Jovem”. Não estou pretendendo estabelecer analogias demasiado sutis. Mas que Jung sempre foi um pensamento jovem para seu tempo, inquieto, renovador, alegre (era um homem bem humorado), abrangente e generoso (como a juventude), lá isso foi. Sei lá que influências atávicas vinham através de seus antepassados criadores do sobrenome. Sei lá....
Mas em termos culturais e de comunicação esta analogia do pensamento de Jung com os jovens se dá, sobretudo, num ponto: ao ser o grande desbravador das formas extra-supra-além-racionais, ele abriu as portas tanto da percepção de fenômenos antes bloqueados pelo império absolutista da razão; como do conhecimento mágico, intuitivo e sensorial.
Calma, leitor racionalista de dedo em riste para mim! Manera, amizade! Jung não era contra a razão. Ninguém em sã consciência pode sê-lo. Ela é, afinal, a grande ordenadora do conhecimento, a grande instrumentadora do pensamento. Eu também acho.
O que Jung revelou foi a limitação do pensamento racional vigente até seu tempo, para a obtenção de um conhecimento abrangente e amplo da realidade em todas as suas manifestações, muitas delas no âmbito estritamente mágico, cósmico, emocional, espiritual, sensorial, místico, intuitivo, pré-monitivo, panteísta, primitivo etc, etc.
Liberando o homem ocidental das peias do racionalismo cartesiano, mas usando os recursos decorrentes desta mesma razão edificada por Descartes, mas buscada, defendida e glorificada por vários filósofos antes dele, Jung pôde estabelecer uma ponte com o Oriente, pôde entender as mais antigas manifestações e descobertas dos alquimistas, pôde viver sem conflito sua visão cósmica, pôde conhecer o Deus de sua crença (Jung acreditava em Deus porque aceitava o que lhe manifestava seu próprio lado mágico e místico), pôde, enfim, mostrar que há muito mais afinidades entre religiões e filosofias, do que poderia parecer aos dogmatismos decorrentes de séculos de conflitos baseados exclusivamente no dado racional das coisas.
Ora, os tempos modernos geram uma juventude ávida de um encontro existencial mais profundo consigo mesmo, com a natureza, com o mágico, com o cósmico, com o que seja totalizante. Cansados de embates racionais, ideológicos, políticos, econômicos (todos filhos diretos do cartesianismo). Cansados da produção em série, das estruturas lineares, das racionalizações explicadoras de atitudes, os jovens, por intuição e por sensibilidade, encontram no pensamento de Jung uma esperança de identidade e de abrangência. Não dá para explicar o caos, o sectarismo, o abandono da vida e seus principais valores (isso é a patologia de certos segmentos da juventude). Não! Mas para explicar aquilo que a emoção de há muito já sentiu, aquilo que a intuição de há muito já percebeu, em suma, aquilo que caracteriza novas formas de conhecer, menos exclusivistas, menos esquemáticas e limitadas a apenas uma parte dessa maravilha semi-explorada que é o cérebro humano.

sábado, 28 de julho de 2012

Nise da Silveira - A Esquizofrenia em Imagens


C. - Lápis cera oleoso/papel
J. - Guache /papel
S. - Lápis cera oleoso /papel
C. - Guache / papel.
"Jung dá máximo valor à função criadora de imagens. Na sua psicoterapia, desenho e pintura são considerados fatores que mesmo podem contribuir para o processo de auto-evolução do ser.
Quando o neurótico já está em condições de sair do estado mais ou menos passivo de dependência das interpretações do analista, Jung o induz a ação – isto é, pede-lhe que desenhe ou pinte as imagens de sonho que mais o impressionaram. Não se trata de fazer arte, trata-se, na expressão de Jung “de produzir uma eficácia viva sobre o próprio individuo”. “Dar forma material à imagem interna, obriga a considerar atentamente cada uma de suas partes que poderão deste modo desenvolver toda a sua força evocadora”. Correntemente, a pessoa detém-se sobre as imagens de seus sonhos apenas durante a sessão analítica. Logo depois é absorvida no tumulto cotidiano. As imagens esvaem-se. Outra coisa será tentar captá-las sobre o papel, lutando contra pincéis e cores e tanto melhor quanto maior for o esforço e tempo dedicado a este trabalho. O individuo necessitara cada vez menos de seu analista. Se descobre, por sua própria experiência, que a formação de uma imagem simbólica libera-o de uma condição de sofrimento e o ajuda a galgar outro nível de consciência, torna-se independente por auto-criação, isto é, dando forma a suas imagens internas ele se modela simultaneamente a si mesmo.
O que acaba de ser dito refere-se a neuróticos e a todos aqueles que buscam o desenvolvimento de sua personalidade, a própria individuação.
Mas, ainda quando se trata de psicóticos, de esquizofrênicos, Jung continua a atribuir ao desenho e a pintura função terapêutica.
Por intermédio da pintura “O caos aparentemente incompreensível e incontrolável da situação total é visualizado e objetivado; poderá ser observado a distância pelo consciente, analisado e interpretado. O efeito deste método é evidentemente devido ao fato de que a impressão primeira caótica ou aterrorizante é substituída pela pintura que, por assim dizer, a recobre. O tremendum é exorcizado pelas imagens pintadas, torna-se inofensivo e familiar e, em qualquer oportunidade que o doente recorde a vivência original e seus ameaçadores efeitos emocionais, a pintura interpõe-se entre ele e a experiência, e assim mantém o terror a distancia”. Muitas e muitas vezes testemunhei essa despotencialização de imagens aterrorizantes, por meio da pintura. Para ser obtido esse efeito, é frequente que a mesma imagem tenha de ser desenhada ou pintada repetidas vezes. Não se trata de estereotipias nesses casos, mas de um difícil trabalho de desgaste da energia de uma imagem perturbadora.
Ainda o desenho e a pintura permitem ao doente dar forma as forças defensivas que se opõem à dissociação. Forcas autocurativas manifestam-se de maneira instintiva quando a psique se desorganiza. O sistema psíquico não diverge nisso de todos os outros sistemas biológicos. Uma vez rompido seu equilíbrio, tende a recuperá-lo. Assim, impulsos defensivos, por necessidade instintiva, buscam aproximar opostos em conflito e lançar pontes sobre cisões que parecem irreparáveis.
As forças ordenadoras que se opõem ao caos configuram-se de preferência em imagens circulares dos mais diversos aspectos, mandalas, seja com a presença de um centro em torno do qual elementos dispares tendem a agrupar-se, seja de arranjos concêntricos compostos de representações múltiplas, contraditórias e mesmo inconciliáveis. “Isso é evidentemente uma tentativa de autocura, que não se origina da reflexão consciente, mas de um impulso instintivo”, diz Jung".
D. - Lápis cera oleoso/ papel
A Esquizofrenia em Imagens - Nise da Silveira - Conferência feita na abertura do Simpósio A Esquizofrenia em Imagens. Comemorativo do XXV aniversário da STOR - CPPII, 13 -16 de setembro de 1971 (hoje, Centro Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira). Publicado na Revista do Grupo de Estudos C. G. Jung, pgs. 123 -136 - QUATERNIO- 1973 – Rio de Janeiro.

domingo, 22 de julho de 2012

A riqueza do simbolismo da Cruz

O Grupo de Estudos C. G. Jung, se aprofundando, nas quinzenas das quartas-feiras, no Simbolismo da Cruz, seguindo como base o livro de Nise da Silveira - O Mundo das Imagens.
A potência imagística da Cruz na Mesopotâmia. A cruz grega, a romana, a celta, a cristã, assim como a Cruz nas culturas; chinesa e hindu, maia e azteca.
Mostra de imagens da Cruz nos desenhos de clientes da Casa das Palmeiras, no Museu de Imagens do Inconsciente e na criação de artistas plásticos.
Ver abaixo no Blog, dia 9, corrente - Informações dos dias, horário e local.
Aberto ao público.
S. - Lápis cera/papel, 29x21 cm., 2012. 
Cruz forquilha (símbolo da árvore da vida) Livro - os cavalos de octavio ignacio - Sociedade Amigos de Moseu de Imagens do Inconsciente, 1978.
Cruz celta
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domingo, 15 de julho de 2012

C. G. Jung - o homem despojado

C. G. Jung acendendo o cachimbo?
  Amava viver despojado com a Natureza.
(fotografia em torno de 1920)

segunda-feira, 9 de julho de 2012

A Cruz e seu simbolismo

Arquivo / Sacramento
Dacílio Lima - obra desaparecida - lápis cera 1967 - 96x66 cm
Livro - Mostra de Descobrimento:
 Imagens do Inconsciente, pg  82/83 - 2000.
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Apresentação - introdução
A Cruz e seu simbolismo
[enriquecida com imagens]
Grupo de Estudos C. G. Jung
Aberto ao público
Dias: 11, 25 de julho
e 8 de agosto de 2012
Raphael Domingues - bico de pena s/d.
Arquivo - Museu de Imagens do Inconsciente
Referências: Nise da Silveira
O Mundo das Imagens
Local:
CASA DAS PALMEIRAS
Início: 19h / término às 20h40.
Rua Sorocaba, 800 – Botafogo.
Tel. 2266-6465 (Inform.: das 13h às 17h)
Desenho/guache - Acervo - J.
Casa das Palmeiras
Poetas, artistas, filósofos, médicos, psicólogos, pensadores livres, cientistas, sociólogos e/ou qualquer pessoa que desejar mergulhar na obra da sábia Nise da Silveira estão convidados.
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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Nise da Silveira sobre produção plástica - Imagens

Arquivo - desenhos
 técnica mista
“Desenho e pintura não só constituem excelente meio de pesquisa, mas igualmente são instrumentos da maior importância na terapêutica junguiana das neuroses”.
“Certamente será muito válido interpretar e compreender as produções da imaginação – sonhos, fantasias – nos distúrbios emocionais. Mas o caminho da interpretação emocional não é o único caminho. Há também, segundo Jung, o método que sugere ao indivíduo a tentativa de dar forma visível às imagens internas que surgem em meio dos tumultos das emoções. Exprimir as emoções pela pintura será excelente método de confrontá-las. Não importa que essas pinturas sejam de todo desprovidas de qualidade estéticas. O que importa é proporcionar à imaginação oportunidade de desenvolver livre jogo e que o individuo participe ativamente dos acontecimentos imaginados”.
“Não se trata de fazer arte, diz Jung, mas de produzir um efeito sobre si próprio. Aquele que até então permanecia passivo, agora começa a desempenhar uma parte ativa. Lançando sobre o papel as imagens que viu passivamente, realiza um ato deliberado. Há grande diferença entre falar sobre imagens de sonhos e fantasias durante uma sessão analítica, e lutar durante horas com pinceis e tintas para dar forma a imagens fugidias. Cedo o indivíduo verifica que o ato de pintar o libera de estados psíquicos de muito sofrimento. Passará a recorrer espontaneamente a este método e assim irá se tornando independente de seu médico. Dando formas às imagens internas, simultaneamente, ele se modela a si mesmo”. (Jung C. W. 16, p 48)
“Jung atribui à pintura função terapêutica. Por intermédio da pintura, ‘o caos aparentemente incompreensível e incontrolável da situação total é visualizado e objetivado (...). O tremendum é exorcizado pelas imagens pintadas, torna-se inofensivo e familiar e, em qualquer oportunidade que o doente recorde a vivência original e seus efeitos emocionais, a pintura interpõe-se entre ele e a experiência, e assim mantém o terror à distância’. (C. W. 3, p. 260)”.
(...) “Os processos de autocura serão favorecidos se o doente sentir-se livre no atelier, não se admitindo coações de qualquer espécie nem a presença importuna de curiosos”.
Nise da Silveira - Imagens do Inconsciente – pgs 134, 135 -1981, Alhambra, RJ.
guache
 pastel oleoso


pastel seco e oleoso